segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

100 anos de Kirk Douglas e Olivia de Havilland


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Olá, meu povo da montanha suíça! Vim rapidinho, no primeiro dia do ano, prestar uma singela homenagem a dois astros que continuam brilhando aqui na Terra: Kirk e Olivia! Como grande fã de cinema clássico, eu não podia deixar o centenário dessas duas lendas passar em branco, então queria fazer um breve insight sobre suas vidas e carreiras, ainda mais entre tantas perdas que tivemos ano passado, é sempre bom lembrar que ainda temos esses dois grandes entre nós - ambos com um século de vida! Sei que estou quase um ano atrasada mas os dois merecem. 


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Bem, vamos às damas primeiro! E essa é o que realmente podemos chamar de uma senhora de muita classe. Olivia Mary de Havilland, ou simplesmente ''Livvie'', já começou como a diferentona: nasceu em Tóquio, no Japão, no dia 1 de julho de 1916. Sua irmã Joan Fontaine também nasceu em Tóquio, e as duas vieram ainda jovens para os Estados Unidos, mais especificamente na Califórnia, onde acabaram ficando. O pai, Walter de Havilland, era professor, e Lillian Fontaine (nome artístico de Lillian Augusta Ruse) havia estudado na Royan Academy of Dramatic Arts e trabalhou como atriz. Os dois acabaram se divorciando, e as irmãs de Havilland ficaram com a mãe, e com o tempo ambas se tornaram atriz de sucesso. 



Joan e Olivia são famosas não só pelas bem sucedidas carreiras no cinema, mas também pelo famoso feud atribuído a elas. Bem, na minha humilde opinião, eu acho que nesse feud, apesar de bastante divertido para fofocar e rir das diversas situações engraçadas das rixas entre as duas, há bastante forçação de barra. Até com Bette e Joan eu sinto que as pessoas forçam demais essa coisa de ''ódio'' entre elas, muito disso são as próprias pessoas que inventam e distorcem os fatos, muitos dos quais nunca conheceremos de verdade, pois não estávamos lá no momento para saber. Mas como não se divertir com as histórias insanas que só eram possíveis na Hollywood na sua Era Dourada, não é mesmo?

Primeiramente, há a famosa história de Joan e Olivia ainda jovens quando Joan se machucou enquanto as duas estavam na piscina. Segundo Joan, Olivia a empurrou deliberadamente, enquanto Olivia diz que Joan tentou empurrá-la mas quem se machucou foi a própria Joan. GRITOS

Um trecho divertido sobre as brigas quando jovens saiu na última entrevista de Olivia para a Vanity Fair, no ano passado (tradução minha):

''Como as meninas foram ficando mais velhas , a raiva e animalidade de Joan, como diz Olivia, só aumentou. Joan estapeava Olivia, hora após hora, com Olivia a dar a outra face. Quando Olivia não aguentou mais, ela chegava a puxar o cabelo de Joan, e épicos cabos de guerra se seguiam.Olivia admite que Joan, que gostava de se queixar de que Olivia era uma crente ávida dos direitos de ser a mais velha, se ressentira por ter de usar os vestidos e sapatos que Olivia não queria mais; ela deliberadamente pisava nos saltos de Olivia quando a seguia até as escadas. Em suas queixas na People, Joan tornou sua irmã em Baby Jane, alegando que Olivia a aterrorizava lendo a história da crucificação da Bíblia em voz alta.''















Bem, Joan dizia que queria morrer com 105 anos no palco, interpretando Peter Pan. Já Olivia começou sua carreira com personagens tão sonhadores quanto: sua estreia nos palcos foi como Alice no País das Maravilhas em 1933. E sua primeira grande aparição no cinema foi em Sonhos de Uma Noite de Verão, de 1935 feito pela Warner Bros, estúdio onde a atriz se consagrou.

''Pela primeira vez eu vivi a mágica experiência de sentir-me tomada pela personagem que eu estava interpretando. Eu realmente senti que eu era Alice e que, quando atravessei o palco, eu estava me movendo para o encantado país das maravilhas de Alice. E assim, pela primeira vez, senti não apenas o prazer em atuar, mas o amor por estar atuando, também.''





Sonhos de Uma Noite de Verão 

Olivia foi virando uma das maiores estrelas de Hollywood. Ainda em 1935 começaria uma das mais famosas duplas do cinema, quando Olivia estrelaria junto com o galã dos filmes de aventura, o galante Errol Flynn, o filme Capitão Blood. O filme de capa e espada era só o começo de uma parceria cheia de química que resultou em oito filmes!! Para mim, o exemplar mais marcante dos dois é As Aventuras de Robin Hood de 1938, além de ser a melhor versão da história. Aventura, romance e entretenimento de qualidade (e com lindas cores!). A Lady Mary mais adorável sempre será Olivia.




Mas o ápice de sua carreira foi quando viveu a adorável Melanie Hamilton de E O Vento Levou... em 1939. Aquele ano foi o apogeu da Era Clássica e o filme pode ser considerado facilmente como a maior produção de todos os tempos - não importa o avanço dos anos e da tecnologia, E O Vento Levou será sempre imbatível. E ninguém poderia viver com tanta graça e doçura a prima de Scarlett O'Hara como Livvie - ela praticamente irradia luz quando aparece na tela! Até hoje é seu papel mais lembrado, e não é por menos.

Olivia é hoje a única pessoa do filme que ainda está entre nós. 




Já adultas, foi ficando clara a desavença entre as irmãs de Havilland, principalmente nas festas do Oscar. Em 1941 estavam as duas concorrendo pelo Oscar de Melhor Atriz: Joan por Suspeita, de Hitchcock, e Olivia pelo filme A Porta de Ouro (Hold Back The Dawn, uma divertida e engenhosa comédia que todos deveriam ver - roteirizada por Billy Wilder! ainda temos Paulette Goddard e Charles Boyer inspirados - foi recentemente lançada pela Colecione Clássicos). Metalinguístico, o personagem de Boyer vai para os estúdios da Paramount e conta para Mitchell Leisen (o real diretor do filme!) sobre sua história: ele é um grande malandro que planeja junto com sua amante (Paulette) armar uma forma de passar pela fronteira do México rumo aos Estados Unidos, e ele acha a solução perfeita na ingênua professora vivida por Olivia: casando com ela, ele poderá passar pela fronteira, mas quando ele pretendia apenas enganar a professora, ele termina se apaixonando por ela.


Bem, Joan venceu, e o clima entre as duas não ficou dos melhores. Olivia venceria anos depois, pelo belíssimo melodrama Só Resta Uma Lágrima em 1946, estrelado por uma Olivia de Havilland em estado de graça. No filme ela vive uma moça que engravida de um piloto combatente. Ela dá a luz a um menino, mas é impedida de ficar com ele e o filho acaba indo para a adoção. Mas ela não desiste de ficar perto do garoto, e passa a amá-lo à distância, sem o garoto saber que ela é a mãe dele.



Mesmo anos depois, o ressentimento entre as irmãs prevaleceu. Olivia ficou radiante com a vitória, mas de todos os presentes, a única pessoa que ela recusou aceitar qualquer cumprimento foi a sua irmã Joan. Climão............

*calma Olivia, não vou roubar não*

Antes da segunda estatueta, Olivia fez um de seus melhores trabalhos: A Cova da Serpente (The Snake Pit, 1948). Essa produção corajosa e marcante é de longe um dos filmes mais intensos que já vi. Um profundo estudo de personagem, foi um dos primeiros filmes a ter doença mental como tema. Livvie é Virginia, uma mulher que sofre um colapso nervoso e é internada num manicômio. Ao longo do filme mergulhamos na vida da personagem e na sua luta para manter a sanidade, com a ajuda do seu marido e de seu médico. Virginia terá que lutar não só contra os demônios de sua mente, mas também ser testemunha das péssimas condições e dos maus tratos do hospital psiquiátrico, levantando um debate até então pouco trazido à tona no cinema. Imperdível! 




O segundo Oscar viria com um filmaço arrebatador: The Heiress (Tarde Demais, 1949), sob a direção com sempre competente William Wyler. Olivia novamente triunfa num veículo dramático e prova mais uma vez seu talento poderoso. Aqui ela vive a herdeira do título, uma jovem ingênua e frágil comandada por um pai rico e austero. A vida da jovem muda quando ela conhece um jovem sedutor (Montgomery Clift) numa festa. O pai pensa que ele é um caçador de fortunas, e paira a dúvida sobre suas reais intenções. Esses dois homens mudam completamente a forma da moça de ver o mundo, e a jovem passa por uma grande jornada de amadurecimento e de amor próprio. A herdeira amadurece e muda completamente de personalidade, mas as pessoas do seu meio a fazem uma mulher dura e fechada para o mundo. Se ela quiser realmente se casar com o jovem, o pai ameaça deserdá-la. Não vou dar spoilers, mas o final é extasiante! Assistam.



E assim Livvie acumulou duas estatuetas na sua estante.




Vindo os anos 50, a Old Hollywood foi vivendo seu declínio. Hollywood já não atraía mais a moça De Havilland, e ao casar com o francês Pierre Galante, ela se muda para Paris e lá vive até os dias de hoje, no número 3 da Rue Bénouville. Sua irmã Joan se manteve feliz em Carmel-By-The-Sea até o fim de seus dias, em 2013. Houve momentos de tensão e também de companheirismo nesse meio tempo, mas em geral as duas se distanciaram e raramente mencionavam o nome uma da outra publicamente. No fim, cada uma era do seu jeito, ambas cheias de personalidade, cada uma pertencia a um círculo diferente, e cada uma seguiu sua vida. 


Fake friends, real diamonds 

As peripécia de Olivia na França e as dificuldades para se adaptar ao seu novo lar a inspiraram a escrever um livro: Every French Has One. 



E falando em livros, Olivia vem há muitos anos escrevendo uma autobiografia! Esperamos que saia em breve. Já Joan lançou em 1978 uma autobiografia chamada No Bed of Roses (com comentários não muito positivos sobre sua irmã). Ela diria sobre Olivia em uma entrevista na época:

''Olivia sempre disse que eu era a primeira em tudo. Eu casei primeiro, eu ganhei um Oscar primeiro e eu tive um filho primeiro. Se eu morrer ela vai ficar furiosa, pois eu terei ido primeiro.''

E quando sua irmã faleceu em 2013, depois de décadas afastadas, Olivia disse : 

''Estou chocada e entristecida, e agradeço por todas as expressões de simpatia e gentileza dos fãs. ''


Depois de deixar a Califórnia nos anos 50, Olivia passou a aceitar apenas papéis esporádicos, que realmente achasse que fizessem valer a pena sair de sua toca na Europa. Ainda assim Olivia conseguiu brilhar nos anos 60. Em 62 fez o romance Luz na Praça (Light in the Piazza, 1962) , sobre uma mãe e sua filha de 26 anos mas com mentalidade de 10 devido a um acidente - a filha conhece um jovem que se apaixona por ela, e a mãe vivida por Olivia tenta não deixar os dois juntos, com medo da filha sair machucada. Serão os dois felizes mesmo com a doença mental da jovem moça? E ainda surge o galã Rossano Brazzi para balançar o coração da mãe.




Em 1964 a atriz participou de dois thrillers: Com a Maldade na Alma (Hush Hush Sweet Charlotte) e A Dama Enjaulada (Lady in a Cage). Os dois fazem parte do subgênero que ficou conhecido como Psycho-Biddy - começou com O Que Terá Acontecido a Baby Jane e então viriam uma série de filmes com grandes damas do cinema protagonizando histórias malucas de suspense e terror, geralmente com todas elas indo à loucura. O gênero perdurou até os anos 70 e contou ainda com estrelas como Debbie Reynolds e Shelley Winters (What's The Matter With Helen, 1971) e Tallulah Bankhead (Die! Die! My Darling! , 1965) . 

Com a Maldade na Alma era para ser uma nova reunião de Bette Davis com Joan Crawford nos moldes de Baby Jane. Mas ficou tão insuportável o ambiente entre as duas que Joan pulou fora, apesar de já ter filmado algumas sequências. Infelizmente seria um filme imperdível se as duas tivessem feito juntas, e apenas os stills do filme com elas juntas já são demais!


O pessoal do filme ficou desesperado para encontrar uma substituta para Crawford. Vivien Leigh disse que até poderia acordar cedo no meio do mato para trabalhar com Joan sem maquiagem, mas Bette Davis sem maquiagem ainda de madrugada ela não poderia encarar (berro). Para enfim convencer Olivia de Havilland , o diretor Robert Aldrich voou até a Suíça para falar com ela pessoalmente. Olivia era grande amiga de Bette, e já haviam trabalhado juntas nos ótimos filmes Somos do Amor (Its' Love I'm After, 1937) e Nascida para o Mal (In This Our Life, 1942). No fim, Olivia topou e ficou perfeita num papel de malvada, para variar. Com sua cara de santa do pau oco, caiu como uma luva. Davis faz uma mulher reclusa que todos pensam ter cometido um assassinato há muitos anos, e as coisas vão ficando mais tensas com a chegada de sua prima (Olivia). Bette vai ficando cada vez mais perturbada, e a prima se mostra uma mulher dissimulada. 


Foi a vingança perfeita de Olivia, pois em Nascida para o Mal ela era a irmã boazinha e Bette era a ''nascida para o mal'' que só azucrinava a vida da irmã.



E em A Dama Enjaulada, Olivia faz uma senhora deficiente que precisa usar um elevador para se locomover dentro de casa. Num dia quente de verão acaba a luz e a mulher fica presa no elevador. Sem ninguém para ajudá-la, sua casa ainda é invadida por uma gangue de delinquentes liderada por James Caan, na época estreante. Esse filme é tensão até o último minuto!


Bette e Olivia eram realmente as melhores amigas. As duas também lutaram bravamente contra o sistema dos estúdios dentro da Warner Bros. Bette sempre batalhou para conseguir bons papéis e melhores condições de trabalho, e saiu vitoriosa! As duas foram poucas que realmente lutaram para mudar a situação dos estúdios que amarravam os atores pelos contratos e os tratavam como escravos, usavam sua imagem como bem entendiam e mandavam eles trabalharem em toda espécie de filme porcaria que eles bem entendessem. Caso você se recusasse a trabalhar no filme que o estúdio lhe impunha, você era suspenso e os chefões ainda poderiam destruir sua carreira. Bette abriu um processo contra a Warner e, mesmo perdendo a causa juridicamente, ganhou ainda mais admiração das pessoas e mostrou quem realmente mandava ali, até o próprio chefe Jack Warner a admirou pela atitude, e assim Bette deixou de fazer aqueles chorumes de começo de carreira e consegui papéis melhores. E De Havilland também abriu um processo contra o estúdio, e venceu na Justiça! Graças a ela os atores ganharam mais liberdade desde então, com o que viria a ser a Lei De Havilland, nomeada graças à rebelde Livvie, que também conseguiu melhores opções de trabalho. 

Não só por talento e charme, mas também pela garra e ousadia que essas divas se tornaram verdadeiros ícones!

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Vale a pena conferir esse momento das duas juntas no programa This is Your Life. Olivia voou de Paris só para ir ao programa ver a amiga! Ela correndo super feliz para abraçar Davis é impagável!



Com o passar dos anos, chegando até os dias de hoje, Olivia foi diminuindo seus trabalhos como atriz e vem se dedicando a boas causas das mais diversas, escrevendo sua autobiografia e sempre recebendo homenagens de todos os cantos do mundo. Aqui eu fiz apenas um pequeno apanhado de sua carreira e vida, um tributo para uma das atrizes mais amadas não só minha mas de uma enorme legião de fãs dos filmes clássicos. É uma benção ainda termos essa mulher incrível entre nós, e desejamos muitos anos de vida, saúde e paz para Miss Olivia de Havilland! ♥




Agora vamos ao homem! Meses depois do 1 de julho, no dia 9 de dezembro Kirk Douglas completou 100 primaveras. 




Com o filho Michael e a nora Catherine Zeta-Jones


Nascido Issur Danielovitch Demsky, é filho de imigrantes judeus bielorussos e de origem pobre. E quem diria que o ''filho do trapeiro'' (título de sua autobiografia, em inglês The Ragman's Son) se tornaria um astro de cinema? Antes de entrar na Marinha, mudou seu nome para Kirk Douglas. Com o tempo, foi ficando clara a sua vocação para ser ator, e então o rapaz batalhou para conseguir um lugar na Broadway. E adivinhem que atriz estava junto do moço no grupo de atuação? ELA MESMA, LAUREN BACALL (fiz um post há um tempo atrás sobre ela, deem uma lida!). 

Os dois conseguiram bolsa de estudos e estavam realmente empenhados a conseguirem deslanchar. Bacall conseguiu primeiro, mas não esqueceu do seu amigo, e foi ela que deu uma grande força para chamarem Kirk para seu primeiro papel no cinema, no filme O Tempo Não Apaga (The Strange Love of Martha Ivers) de 1946! Foi uma bela estreia do que seria uma carreira magnífica, e ainda já começou contracenando com a maravilhosa Barbara Stanwyck! Belo filme noir.




Kirk nunca esqueceu da ajuda da amiga Bacall, e os dois foram grandes amigos a vida inteira! 



Aos poucos, a cada novo filme, Kirk foi mostrando a que veio. Em todo trabalho se mostrou um ator visceral, daqueles que realmente incorporam o personagem, o vivem de fato. Em 1949, um trabalho notável seu foi no filme Champion (O Invencível), onde viveu um jovem pobre que vira um lutador de boxe de sucesso, mas tem seu caráter posto à prova frente as nuances mais sórdidas da sua fama. Foi sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator.



Em 1951, Kirk estrelou um dos melhores filmes já feitos: A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole). Dirigido pelo mestre  Billy Wilder, que sabia dirigir tanto comédias de qualidades como dramas contundentes, aqui temos Kirk na pele de um jornalista inescrupuloso que se vê sem ideias numa cidade tediosa de interior, até que ele descobre um homem que ficou preso numa mina quando procurava por relíquias indígenas. O jornalista faz do resgate do homem uma matéria de alcance nacional e atrai a atenção de todos para o local, mas mais do que isso, o repórter quer controle total da situação para tirar o maior proveito da situação, adiando o resgate do homem na mina, sem medir as consequências.Uma aula não só de cinema mas de jornalismo e exploração midiática, esse filme tem mais de 60 anos porém continua atualíssimo. 



Ainda em 51 o ator estrelou com a diva Eleanor Parker o instigante filme noir Chaga de Fogo (Detective Story). Numa produção meio teatral, em que a tensão ferve a cada minuto, Douglas faz um policial dedicado e intolerante de Nova York que sempre tratou os criminosos com muito rigor. Um marido muito dedicado a sua mulher, ele vê sua vida virar de ponta cabeça durante uma nova investigação que traz à tona segredos do passado de sua esposa. Um filme que merece ser visto.



A segunda indicação ao Oscar para Kirk veio pelo filme que é o meu predileto dele, e é justamente sobre o mundo do cinema: Assim Estava Escrito (The Bad and The Beautiful). Vincente Minnelli dirige com maestria esse filme que retrata de maneira divertida e refinada os bastidores de Hollywood, com direito a muitas referências ocultas de pessoas da vida real e diálogos espirituosos. Vemos a ascensão e a queda de um grande magnata de Hollywood vivido por Douglas, através de flashbacks de pessoas que passaram pela sua vida, amigos e mulheres que o abandonaram e relembram tudo o que viveram com ele, e assim vamos conhecendo a sua história turbulenta no meio da sétima arte em seu ápice. Isso tudo sem falar do belo elenco de estrelas que dão vida aos personagens dessa história fascinante. AMO!


Um de seus trabalhos mais marcantes foi quando deu vida ao pintor Van Gogh no filme Sede de Viver (Lust for Life, 1956). Trabalho muito inspirado do ator, ele encarna com maestria todos os tormentos do pintor, sua alma torturada pelo próprio talento e sua paixão pela arte em meio a uma vida conturbada. Rendeu sua terceira indicação à Academia, e incrivelmente ele não venceu nenhuma das vezes. O reconhecimento viria anos depois, com um Oscar Honorário em 1996 pela sua riquíssima contribuição à Sétima Arte, entregue por Steven Spielberg.






Mas claro, não podíamos deixar de falar do papel que o consagrou de vez nas telas do cinema: em 1960 ele estrelou o épico Spartacus, dirigido por Stanley Kubrick, que já o havia dirigido no excelente filme antiguerra Glória Feita de Sangue, ambos obrigatórios para qualquer cinéfilo que se preze.



Uma curiosidade interessante foi o papel de Kirk contra a lista negra que corria na época com as pessoas consideradas subversivas com a caça às bruxas rolando solta durante o Macarthismo que incendiou Hollywood e conseguiu destruir a vida de muita gente. Kirk ajudou muito o colega roteirista Dalton Trumbo, que estava na lista negra e não era creditado pelo seu nome nos seus trabalhos. Kirk trouxe à tona que foi Trumbo quem escreveu o roteiro de Spartacus, e Otto Preminger revelou que foi Trumbo quem escreveu também o roteiro de Exodus, e assim foi o fim de Dalton Trumbo na lista negra e ele voltou a ser creditado pelos seus trabalhos. Dali em diante, aos poucos, seria o fim da caça às bruxas em Hollywood. 

HE IS SPARTACUS!! 


Trumbo mais adiante roteirizou um belo filme estrelando Kirk Douglas que viria a ser Lonely Are The Brave. Um western psicológico fora do comum, serviu como ótimo veículo para o ator.


Kirk foi casado duas vezes: primeiro com Diana Dill entre 1943 e 1951, e com ela teve seus filhos Michael e Joel Douglas. Depois em 1954 se casou com Anne Buydens, com quem está até hoje e ambos muitos felizes :) Com ela teve os filhos Peter e Eric.

Com o filho Michael


Com Anne


Kirk continuou trabalhando de forma incansável. Além de muitos filmes, Douglas também se consolidou como escritor! Além de sua autobiografia The Ragman's Son, ele escreveu diversos livros, desde ficção até livros sobre sua vida e todas suas experiências. O ator passou por muitos momentos difíceis em sua vida:  perdeu um filho, Eric, por overdose em 2004; sofreu um acidente de helicóptero que quase o matou e teve um derrame em 1996 que o afetou seriamente,mas com muita força de vontade o ator conseguiu se restabelecer e hoje vive muito bem com sua família em Beverly Hills. Está sempre junto de seu filho Michael, também ator de muito talento :)



E claro, o artista continua antenado com tudo o que acontece no mundo. No seu aniversário de 90 anos, ele fez um statement muito interessante para a gente, principalmente jovens, poder refletir:

Meu nome é Kirk Douglas. Você pode me conhecer. Se não. . . jogue no Google. Eu era uma estrela de cinema e eu sou o pai de Michael Douglas, o sogro de Catherine Zeta-Jones, e o avô de seus dois filhos. Hoje comemoro o meu 90º aniversário. Tenho uma mensagem para transmitir aos jovens da América. Um 90 º aniversário é especial. No meu caso, este aniversário não é apenas especial, mas milagroso. Eu sobrevivi à Segunda Guerra Mundial, um acidente de helicóptero, um acidente vascular cerebral, e dois joelhos novos. É uma tradição que quando um "menino aniversariante" está sobre seu bolo que faz um desejo silencioso para sua vida e sopra então as velas. Eu tenho seguido essa tradição por 89 anos, mas em meu 90º aniversário, eu decidi me rebelar. Em vez de fazer um desejo silencioso para mim, eu quero fazer um desejo alto para o mundo. Vamos enfrentá-lo: O mundo está em uma bagunça e vocês estão herdando-o. Geração Y, você está na cúspide. Você é o grupo que enfrenta muitos problemas: a miséria, o aquecimento global, o genocídio, a AIDS e os suicidas, para citar alguns. Estes problemas existem e o mundo é silencioso. Nós fizemos muito pouco para resolver estes problemas. Agora vamos deixá-lo para você. Você tem que corrigi-lo porque a situação é intolerável. Vocês precisam se rebelar, falar, escrever, votar e se preocupar com as pessoas e o mundo em que vivem. Vivemos no melhor país do mundo. Eu sei. Meus pais eram imigrantes russos. América é um país onde TODOS, independentemente da raça, credo, ou idade tem uma chance. Eu tive essa chance. Você é a geração mais afetada e a geração que pode fazer a diferença. Eu amo este país porque eu vim de uma vida de pobreza. Eu era capaz de trabalhar o meu caminho através da faculdade e ir para a atuação, o campo que eu amo. Não há nenhuma garantia neste país que você será bem sucedido. Mas vocês sempre têm uma chance. Nada deve interferir com ela. Você tem que ter certeza que nada está no caminho. Quando eu soprar minhas velas - 90! . . . vai demorar muito . . . Mas vou pensar em vocês.


E é isso, meu povo. Mesmo atrasado, eu não podia deixar o centenário desses dois passar em branco, espero que tenham gostado dessa breve jornada na vida dessas pessoas tão inspiradoras. Viva Kirk, Viva Olivia! Amores de minha vida ♥ 

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