Jean Arthur, a atriz que ninguém conheceu - Biografia e Cinema

"Eu acho que eu me tornei uma atriz porque eu não queria ser eu mesma" - Jean Arthur

     Saudações da terrinha! Hoje eu volto, pela primeira vez em muito tempo, a escrever sobre cinema clássico. Então, eu escolhi começar com a biografia de uma das minhas atrizes preferidas da Golden Age de Hollywood. Talvez você, se assiste a filmes antigos americanos, não a conheça; ou até goste, ou tenha ouvido falar mas não a conheça muito. Ou até seja fã ou admirador, mas nunca soube muito sobre essa atriz enigmática. Ela não foi nenhuma sex symbol bombshell, apesar de ter sim sex appeal; nem tão pouco uma atriz visceral de drama, apesar de não lhe ter faltado talento e versatilidade. Minha escolha se deve por essa comediante merecer todo o nosso reconhecimento, o qual nunca foi a ela totalmente dado. Depois de ter lido sua biografia (em inglês, escrita pelo excelente biógrafo John Oller), enfim pude ter mais acesso a um verdadeiro estudo de personalidade da Jean, e espero através desse texto poder elucidar mais: Quem é ela?

Após muitos anos de pesquisa, Oller nos entrega uma biografia completa sobre a atriz. O biógrafo diz ter por aí muitas biografias de Davis, Hepburn, Monroe; que ele sentiu necessidade de conhecer e por fim escrever sobre Arthur, a atriz que muitos assistem mas poucos conhecem até hoje

Ela detestava dar autógrafos e sair em fotos, mas às vezes cedia

     O Google diria: você quis dizer "James Dean"? "Calça Jeans"? Não. Se ainda hoje Jean Arthur é um mistério, ou um nome esquecido, até mesmo na época em que atingiu o sucesso,  especialmente anos 1930-1940, ela já era uma verdadeira outsider na fábrica de sonhos. Até hoje, mais ainda já que o cinema antigo ocupa parte de um mundo cada vez mais distante, resgatado apenas em mídias, downloads fugazes ou mostras de cinemateca e reprises de televisão, as informações sobre Jean são escassas; até mesmo fotos suas não são muito numerosas (ela detestava publicidade). Ela é considerada a rainha da comédia screwball (comédia maluca), apesar de não tão lembrada quanto Carole Lombard, Irene Dunne e Rosalind Russell. Sua personalidade excêntrica e extremamente reservada a concederam até o título de "Garbo Americana", chegando às vezes a ser até mais reclusa e misteriosa do que a própria Garbo (Jean a idolatrava). Não gostava de autógrafos nem de dar entrevistas. Sua extrema timidez e privacidade a tornavam uma deslocada durante as produções. 

     Somado a isso tudo, Arthur era extremamente perfeccionista, o que lhe rendia o título de "atriz difícil". Mas excentricidades à parte, o diretor Frank Capra a considerava sua atriz favorita! (Jean Arthur e Barbara Stanwyck foram suas queridinhas). Garantiu o reconhecimento de outros gigantes como David O. Selznick (com quem teve um love affair nos anos 20), George Stevens, que a dirigiu em vários filmes, e também Cecil B. DeMille, só para citar alguns. E é realmente impossível pensar em comédia clássica sem pensar em Jean Arthur, a quintessência cômica encarnada. 

Um dos primeiros retratos artísticos de Jean, bem no começo da carreira, ainda morena. Circa 1923

     Seu verdadeiro nome era Gladys Georgianna Greene. Por toda a vida, foi extremamente vaga com relação à sua cidade natal e data de nascimento (costumava dar datas falsas), tendo mentido várias vezes sobre os detalhes de suas origens - coisa que aumentava ainda mais a aura de mistério em sua volta. Ela mentiu por muito tempo dizendo ter nascido em Manhattan. Mas, por fim, se descobriu que Gladys/Jean nasceu em Plattsburgh, cidade localizada no Estado de Nova York, em 17 de outubro de 1900. Se pesquisarmos, vemos que 17 de outubro é um dia do céu astrológico de Libra repleto de aniversários célebres. Montgomery Clift, o famoso e belo ator trágico dos anos 50; a grande diva Rita Hayworth (que merece um post próprio no futuro) seja talvez a atriz mais notável e lembrada da data, com todo o merecimento, obviamente. Mas o nome da também libriana Jean Arthur costuma com frequência ser esquecido... Não por nós, é claro :-) 

Gladys Greene na sua infância e juventude. Aos 3 anos e 8 anos, respectivamente (da biografia de John Oller - a maior parte das fotos raras vieram de sua pesquisa)

Aos 12-13 anos em Jacksonville, Florida, 1913

     Seu mapa astral não é completo, porque pela ausência de hora de nascimento não podemos saber seu Ascendente. Mas além de ser Libriana, sabe-se que sua Lua era em Leão, Marte também em Leão, Mercúrio em Escorpião e a Vênus em Virgem. Não quero divagar muito nesse aspecto, já que nem todo mundo é adepto da Astrologia, e personalidade é algo que cada um tem por si só, porém eu vejo muitos destes signos na pessoa dela. Por quê? Libra seria o charme de Vênus, a classe e o bom gosto que a seguiram por toda a vida. Libra, do elemento Ar, é a busca incessante e racional pela beleza, pelo equilíbrio; logo: por uma perfeição que não existe, é indecisa e inconstante. Leão já é a estrela, o sol, o ego, a necessidade de brilhar; mas na Lua (emocional) isso pode também ser retraído, apontando uma ausência de autoestima, uma importância dada até demais para a própria imagem - o que podemos relacionar com o misto de autoconsciência e noção do próprio talento junto do aparente desprezo pela própria imagem. Acaba sendo uma lua kármica muitas vezes. Já o Marte (ação) em Leão necessita do reconhecimento dos outros, de cuidar e mostrar que é o rei; ele aponta sua energia sempre voltada para o ego, seja numa autoafirmação desmedida ou até ser engolida pela suas inseguranças (as coisas tinham de ser do seu jeito; ela era muito impulsiva, mas depois não sabia se colocar nos compromissos e se retraía na concha). On the other hand, a Vênus (área afetiva) em Virgem indica uma pessoa perfeccionista (ela era muito, mais consigo mesma), racional, super seletiva, pouco dada a grandes paixões ou sentimentalismo (Jean teve poucos relacionamentos e não era muito sexual). Mercúrio escorpiano já é uma pessoa extremamente profunda, misteriosa, e que mais observa do que se expressa. Mas quando se expressa é com muita intensidade e prefere conversas profundas. O Ascendente talvez eu chutasse Escorpião, reforçando essa aura profunda, rígida e misteriosa. Poderia ser também algo como Sagitário (busca incessante por conhecimento, entusiasta), Leão pela questão egocêntrica e brilho pessoal, Áries pela sua impulsividade e afirmação constante da identidade, Aquário (ideias fortes, excêntrico) ou Virgem/Capricórnio (rígido, trabalhador, metódico). Enfim, mistéério... Ou pode até mesmo ser Libra igual ao Sol. Lol

A combinação para o nome "Jean Arthur" nasceu da própria atriz. Jean vem de Joana D'Arc (Jeanne D'Arc em francês), e Arthur veio do célebre Rei Artur. (fotos da biografia)

     É difícil elucidar muito sobre a infância de Jean, pois há sempre meio que uma névoa sobre sua vida privada e pessoal. Mas segundo a biografia, seus avós maternos eram imigrantes vindos da Noruega. Seus ancestrais paternos vieram da Inglaterra e se estabeleceram em Rhode Island, ajudando a fundar a cidade de St. Albans. Gladys era filha de Johanna Augusta Nelson (1874-1959) e Hubert Sidney Greene (1863-1944). Ela era a caçula da família, e tinha três irmãos mais velhos: Donald, Robert e Albert. Pelo fato de ser mulher e a filha mais nova, Gladys foi crescendo e se tornando uma garota solitária e deixada em segundo plano. Ela era facilmente vista à parte, brincando sozinha e já dando sinais de ser muito sonhadora e propensa às artes dramáticas. Talvez um tanto excluída e incompreendida pelas pessoas à sua volta, ou até mesmo vítima de deboche, foi se tornando muito quieta, autocentrada, no seu próprio mundo. Poucas pessoas podiam realmente penetrar na sua mente. Sua movie crush predileta era Mary Pickford. Não era de todo antissocial, mas raramente frequentava festinhas de colegas. Pelo fato de não se identificar com a posição tradicional da mulher como dona-de-casa com uma vida medíocre, de uma forma ou de outra gostava de se ver independente, dona de sua própria vida, e adorava personagens masculinos com uma aura encantada, como Peter Pan. Até seus últimos anos, muitos a viam como uma Peter Pan em corpo de mulher. Arthur sempre se considerou uma "não-conformista", característica de suas personagens favoritas, como Peter e Joana D'Arc. Provavelmente por querer lutar do seu jeito e para ter uma vida mais parecida com seus próprios sonhos, Jean escolheu ser atriz. 

Jean como Peter Pan, seu personagem predileto. Para ela Peter representa mais do que só "o garoto que não quer crescer". Ele é a liberdade, o não-conformismo e a imaginação. 



Assim como suas personagens, Jean batalhou muito para chegar ao topo. A solidão, a insatisfação e a ausência do pai na infância motivariam sua vida adulta

     Mas o caminho seria longo, e o sucesso não viria da noite para o dia. Jean foi sempre muito nômade no começo da vida, pois sua família estava constantemente mudando de endereço. Estes variaram entre Saranac Lake (NY), Jacksonville (Flórida), Schenectady (NY), Westbrook (Maine; seu pai teve um estúdio na cidade de Portland), e por fim Washington Heights, em Manhattan. Fruto de uma infância cigana, a família de Arthur não era muito sólida e dependia muito dos empregos do pai Hubert, que era fotógrafo. Sua mãe era austera, uma típica herança norueguesa. Os irmãos mais velhos não a levavam a sério. O pai se mostra uma figura curiosa e forte na vida de Jean, pois parecia ser o que mais a entendia, junto com uma tia  meio doidinha e amável, muito chegada a ela, chamada Pearl. Entretanto, o pai se mostrava também uma figura ausente, pois em muitos momentos ele simplesmente desaparecia e não voltava por muito tempo, fato que marcou muito o seu psicológico. Se sentindo frustrada e passada para trás, quando os irmãos pareciam ter vidas mais interessantes, ela se tornou uma tomboy como autodefesa, e decidiu que faria coisas interessantes na vida, assim como os homens pareciam fazer. 

Uma vida atrás da afirmação de seus ideais e princípios

     A situação familiar se tornou instável a ponto de Jean ser obrigada a abandonar o colegial. Com o começo da Primeira Guerra Mundial, os homens da família se alistaram e Gladys/Jean começou a trabalhar como estenógrafa em Manhattan, até depois do final da Guerra (um prenúncio de suas personagens urbanas nos filmes). Sempre teve um desempenho escolar muito bom. Com aptidão para idiomas, até cogitou se tornar professora caso a carreira de atriz não decolasse. O que ela realmente havia colocado para si mesma como objetivo era não desistir de ter a própria vida - nos seus próprios termos, e não como ela supostamente tinha que viver (pelo fato de ser mulher). E ainda precisaria saber lidar com os revezes da vida: os demônios pessoais, a roda da fortuna que é a vida do artista, as eventuais perdas (seu irmão Albert faleceu em 1926, por complicações respiratórias decorrentes do seu período na 1ª Guerra). 

     Pegando o gancho do pai fotógrafo, Jean começou a ser modelo fotográfica e comercial em Nova York. A jovem novaiorquina não possuía uma beleza típica padrão, mas tinha um charme próprio, uma aura "pixie" e infantil, que sempre era refletida nas lentes das câmeras. Acabou sendo descoberta por acaso pela Fox Studios, tendo sua estreia nas telas do cinema com o filme Cameo Kirby, em 1923. A película foi também a estreia oficial do diretor John Ford. Hoje, cópias originais do filme se encontram na UCLA dos Estados Unidos e na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa. Mas o filme está disponível no Youtube, na íntegra (assim como a maioria da sua filmografia).

Cameo Kirby, o esquecido filme estreia de Arthur no cinema. Nem eu assisti (ainda)

     Como estamos na Era do Jazz, é previsível que os estúdios estivessem à procura de novas "America sweethearts" que representassem o novo protótipo feminino em voga da época: a flapper. Nomes consagrados que remontam a identidade das flappers são Clara Bow (post em breve - aguardem), Louise Brooks (idem) e Colleen Moore (a pioneira no filme de sucesso Flaming Youth, que então estabeleceu a consagração das flappers no cenário dos anos 20). Seguindo essa vibe, no mesmo ano o estúdio tentou remodelar Jean nesse visual para atender à demanda da época. Mas quando foi colocada para estrelar um filme chamado The Temple of Venus, o diretor se enfureceu com a falta de "vida" nela e a substituiu por Mary Philbin. Ela considerou um alívio, pois não fazia seu estilo ser uma boneca moldada pelo estúdio. Durante esses primeiros anos de silent pictures, por muito tempo se sentiu perdida por não atender às expectativas superficiais de Hollywood. Entretanto, se identificou e muito com a profissão de atuar. 

Sketch de Jean Arthur - autor infelizmente desconhecido

Em O Retorno de Fu Manchu (1929/1930). Jean was not amused, apesar das boas críticas.

     Primeiramente, fez muitos filmes western esquecíveis e sem brilho para Actions Pictures, parte do chamado Poverty Row de Hollywood (chamado "o setor da pobreza"). Segundo ela, apesar de gostar de atuar e achar divertido o "make-believe", as condições não eram boas (ainda mais produções de baixo orçamento) e extremamente cansativas. Ela chegaria a fazer 20 faroestes em dois anos, recebendo só 25 dólares por filme. 

Jean em agosto de 1924 em Hollywood

     Mas, incansável, Arthur fez dezenas de filmes nesse período mais obscuro de sua carreira. Até o começo da década de 1930, com o fim do cinema mudo, Jean atuou em filmes como Horse Shoes (com Monty Banks), The Block Signal (protagonista), Danger Lights, The Poor Nut, Warming Up, The Saturday Night Kid (com Clara Bow e Jean Harlow), The Canary Murder Case, Street of Chance (ambos com William Powell), Halfway to Heaven (com Buddy Rogers) e The Return of Fu Manchu. Plus: ela fez uma ponta não creditada em Seven Chances, de Buster Keaton, em 1925. Fazer curtas de comédia ajudou em muito na sua formação cômica. 

Lulu Brooks em 1927: um estilo típico "flapper" de mulheres jovens, bonitas, esfuziantes, efervescentes, dançantes, borbulhantes, inconsequentes e mundanas - Jean não era nada disso.

Um exemplar de faroeste B da carreira de Jean Arthur: The Drugstore Cowboy (1925)

The Block Signal, um dos poucos exemplares com Jean protagonista na era muda

Com Richard Dix no filme de beisebol bem-sucedido Warming Up (1928). O filme lhe rendeu boas críticas e um contrato de 3 anos com a Famous Players-Lasky, futura Paramount. Foi o primeiro filme sonoro do estúdio, e infelizmente hoje é considerado perdido

     Nas entrevistas e pessoalmente, Jean Arthur já se mostrava avessa aos estereótipos da fama e do sucesso típicos de Hollywood. Não se considerava bonita nem nada de mais fisicamente, odiava seus close-ups, mas tinha muita determinação dentro de si. Nunca foi muito dada pra vida social nem de fazer publicidade de si mesma, o que atrapalhou sua popularidade nos tempos de star system. Ela preferia ficar em casa lendo vorazmente seus livros e escutando música clássica. 

"Eu nunca tive uma única amiga íntima em toda a minha vida. Eu nunca tive um amigo a quem pudesse confiar meus segredos. Suponho que isso explique o fato de que agora é muito doloroso para mim abrir meu coração e confiar em pessoas que são, quase sempre, quase estranhas. Você tem que aprender muito jovem para abrir seu coração."

    Mas isso não quer dizer que não tenha tido envolvimentos. Houve alguns dates e namoros juvenis de ocasião. Em 1928, Jean se casou por impulso com o fotógrafo Julian Anker. O mais curioso é que o casamento durou apenas... 1 dia! Para ela, não foi nada trágico, apesar de cômico. Foi uma questão de muita vontade impulsiva de um momento, mas os dois agiram como adultos e cancelaram o casamento no dia seguinte. Apenas, simples assim! Tentei achar foto do seu primeiro marido de 24 horas, mas não encontrei. 

     E mais para o final da década, um pouco antes de Arthur decidir sair de cena após vários filmes esquecíveis, houve um caso amoroso com David O. Selznick. Parecia muito próspero o relacionamento, sendo ambos vistos frequentemente juntos e muito fascinados um pelo outro.  A relação com o jovem produtor em ascensão trouxe melhores oportunidades de trabalho para Jean na Paramount. Mas Selznick sempre colocou sua carreira em primeiro lugar, e o status que Irene Mayer (filha de Louis B. Mayer, dono da MGM) representava como sua esposa. Sem ele abrir mão do casamento com Irene, Jean não quis continuar mais a vê-lo. O fim do relacionamento e o descontentamento dela (e dos diretores) com seus papeis insossos de "ingenue" deixaram sua carreira no cinema no limbo. 

Irene Mayer e David - casados até 1949, quando Selznick se casou com Jennifer Jones. Os caminhos de Selznick e Arthur se cruzariam anos depois... Nos bastidores do filme mais famoso do cinema.

O relaciomento com Selznick trouxe Arthur brevemente para o spotlight, tanto reconhecimento como papéis de destaque. Em The Saturday Night Kid (1929), Jean conseguiu o melhor papel do filme e ainda por cima roubar a cena até de Clara Bow, a protagonista e estrela mais popular do cinema na época. Jean elogiou Clara, que segundo ela foi sempre muito generosa. Jean Harlow estava iniciando a carreira e feriu um pouco o ego das duas com sua platinada beleza estonteante. 

Com Louise Brooks em The Canary Murder Case (1929). O filme seria silent mas foi todo refeito para ser falado. Brooks não quis cooperar e causou no set. Jean detestou seu próprio desempenho e o filme não foi nada marcante, apenas para o fim da vida de Lulu como estrela

     Demorou um pouco para o cinema falado começar a chegar em um equilíbrio de qualidade de roteiro/história, boa direção, performances mais naturais, sincronia de som/atuação. O grande problema de Jean não foi a transição do cinema mudo para o falado, e sim a mediocridade dos scripts e o typecasting/miscasting (mesmos papéis, escalações erradas). Ela não queria virar uma paródia de si mesma. Quer dizer, no início foi um suspense se a sua voz tão característica - anasalada, estridente, e por vezes rouca - seria bem aceita pelos espectadores. Pode ser que justamente pela qualidade única da sua voz que as plateias tenham sempre reagido bem ao seu falar tão característico, perfeito para a comédia. Nas comédias dos anos seguintes, sua voz e seu timing perfeito, juntos, resultariam numa combinação cômica inigualável. Mas, ainda não era o seu momento. Até seu retorno com Frank Capra, Jean resolveu abandonar Hollywood e tentar a sorte atuando nos palcos de Nova York. Sua voz foi um pouco contida nos primeiros talkies, e durante seu período na Broadway teve um bom treinamento. No teatro, ela poderia enfim se aperfeiçoar. 

"Eu queria me tornar uma atriz realmente talentosa, mas não sabia como agir e não tinha chance de aprender. Naqueles dias, os estúdios não tinham treinadores ou escolas de teatro e era quase impossível entrar nos sets para assistir aos intérpretes mais experientes. Finalmente decidi que só havia uma coisa a fazer: voltar para Nova York e tentar fazer algumas peças lá."

Durante a carreira do cinema mudo e talkies pré-Capra, Jean fez muitas fotos publicitárias dos mais variados tipos. Depois, já uma estrela, recusava fazer estas sessões com frequência 

     Jean voltou para Nova York em 1931. Havia tingido os cabelos de loiro pouco antes, numa tentativa de reformular sua imagem (e parar com as comparações com Mary Brian). Um anos antes, em 30, estreou nos palcos em Spring Song, em Pasadena, CA. Já em NYC, um agente da Broadway conseguiu a ela um papel em Lysistrata. Mas sua estreia na Broadway foi com Foreign Affairs, junto com Dorothy Gish e Osgood Perkins. Mesmo com críticas não muito boas e a peça encerrando após poucas performances, os críticos se encantaram com o desempenho da atriz. Nos anos seguintes, Jean foi participando de peças pouco chamativas, mas cada vez mais atraindo a atenção e o aclame dos críticos. Mesmo sem o grande sucesso ou flopada no cinema, ela dizia estar no período mais feliz de sua vida, se aperfeiçoando cada vez mais como atriz, descobrindo quem realmente era. Sua estreia nos palcos como protagonista foi na peça The Curtain Rises, no final de 33, com boas críticas e público. Sua última peça antes de voltar ao cinema foi The Bride of Torozco. Seus melhores papéis estavam por vir!

"Não acho que Hollywood seja o lugar para ser você mesmo. O indivíduo deve se encontrar antes de vir para Hollywood. No palco, me vi em um mundo diferente. O indivíduo contava. O diretor me incentivou e aprendi a ser eu mesma ... Aprendi a enfrentar o público e a esquecê-lo. Ver os faróis e não vê-los; avaliar as reações de centenas de pessoas e, ainda assim, me colocar tão completamente em um papel que não percebia a reação delas."

Jean se casou em 1932 com o produtor Frank Ross, com quem viveu junto até 1949. Os dois viveram uma relação harmônica e longe dos holofotes, com raros momentos de socialização. "Minha vida privada é assunto meu", dizia à imprensa. 

     Durante esse período teatral em New York, Arthur recusava a maior parte dos scripts oferecidos a ela, com algumas exceções. Em 1933, participou do filme The Past of Mary Holmes para a RKO (seu primeiro filme em dois anos). Depois, estrelou o drama Whirpool (1934) na Columbia Pictures - esse viria a ser o estúdio onde Jean Arthur fez a maior parte dos seus clássicos mais emblemáticos. Com o sucesso do filme, o estúdio lhe ofereceu um contrato. Relutante de início, resolveu aceitar pela estabilidade que traria a ela e aos seus pais, que a seguiram de volta à Califórnia. Até 1936, Jean fez ainda mais 8 filmes, antes do seu grande "break-out" que mudaria sua carreira para sempre.

No drama Whirlpool, o pai de Jean foi condenado a 20 anos de prisão, e ao conseguir liberdade, tenta se aproximar da filha

The Most Precious Thing in Life (1934) é um filme interessante: é uma mistura de Madame X com Stella Dallas. Um drama maternal com Jean fazendo uma mulher tanto na sua juventude como na velhice. Apesar do bom desempenho, o filme novelesco não foi muito bem-sucedido e Arthur não gostou do trabalho.

Alguns dos filmes que Jean fez nos seus primeiros anos na Columbia: The Defense Rests; Diamond Jim; Public Hero #1; The Public Menace; Party Wire

Um ótimo trabalho foi em O Homem que Nunca Pecou (The Whole Town's Talking, John Ford, 1935) - Jean já começava a fazer personagens urbanas ousadas, engraçadas, teimosas e ambiciosas, porém de bom coração. Edward G. Robinson fazia um papel duplo, onde um humilde homem era culpado pelos crimes de seu sósia. Robinson elogiou a colega de cena.

Um dos primeiros triunfos na comédia screwball de Arthur foi com Herbert Marshall em Se Fosses Como Sonhei (If You Could Only Cook, William A. Seiter) em 1935. "Ela consegue facilmente passar da charmosa comediante para a bela romântica", disse um crítico.

     A ascensão da fama de Jean Arthur a possibilitou de começar seus primeiros embates com Harry Cohn, o "son of a bitch" bambambã da Columbia. Como todo mogul de estúdio, o cidadão era implacável e perseguia os seus contratados de formas bizarras e humilhantes, mas também levava muita sapateada dos mais espertos, como Rita Hayworth e Jean. A partir de então, Jean ficaria mais seletiva quanto aos seus trabalhos, com direito a aprovação de roteiro e diretor, além de poder trabalhar em outros estúdios.

      Sua trajetória mudou no momento em que Frank Capra, o diretor americano do homem comum e dos bons princípios, viu cenas de Jean numa sala de projeção e ficou encantado com aquela atriz de perfil "metade anjo, metade cavalo". (Jean só gostava de ser fotografada do lado esquerdo, o qual segundo ela era o seu lado "aceitável"). Capra decidiu escalá-la para seu novo filme O Galante Mr. Deeds (Mr. Deeds Goes to Town, 1936). Seu papel foi o de Louise "Babe" Bennett, a jornalista espertalhona cínica que se aproveita do interesse do ingênuo e simple-minded Longfellow Deeds (Gary Cooper, perfeito para o papel de herói americano tradicional e simplório). Deeds recebe uma herança milionária e é forçado a deixar sua vida pacata no interior para o caos da cidade grande. Babe compactua com os poderosos que querem arrancar o dinheiro de Deeds, culminando num julgamento em que tentam prová-lo como insano mental. Aqui em Portugal o filme tem um nome hilário: "Doido com Juízo". Houve um remake com Adam Sandler de Deeds e Winona Ryder no papel da jornalista, mas por favor, passem longe... Capra e cia cuspiriam naquilo. 

Babe se encanta pelo "Cinderella Man" que ao mesmo tempo apunhala pelas costas na sua coluna do jornal. O clímax do filme no tribunal, quando Babe defende Deeds, um simplório tão ingênuo que é incapaz de se defender contra àqueles que o condenam. Esse é talvez não só o melhor momento de Arthur na tela prateada, mas também um dos melhores trabalhos no cinema dos anos 30. Mesmo anos depois, a superexigente Arthur revia o filme e se emocionava.

O desempenho de Arthur foi maravilhoso, mas Capra e colegas relatam que a atriz era muito tensa e autocrítica nas filmagens. Dizem que Jean aproveitava os intervalos das filmagens para ir vomitar. Ela se entregava tanto em cena que ficava com náusea, mas livre do enjoo ela voltava em seguida, pronta para um take perfeito.

     Não darei mais spoilers, mas a jornalista é a síntese do personagem-chave da carreira de Jean Arthur: a mulher moderna independente que sabe bem o que quer e luta por isso. Enquanto a maioria das atrizes faziam femme fatales, donas-de-casa ou donzelas em perigo (nada contra elas, também têm seus méritos), Jean representava um novo grupo de mulheres que já era uma realidade na América e precisava ser mostrada. Personalidade forte, humor mordaz e espirituoso, cabeça dura, trabalhadora workaholic que fez uma carreira, self-made woman, gente como a gente mas também estilosa e charmosa; sob a máscara de cinismo e de durona, mostra um coração de ouro e uma empatia enorme pelo outro. Mais ainda, pelo homem que ama. Não preciso nem dizer: o filme foi um estrondoso sucesso de crítica e público, elevando o nome de Jean Arthur para o topo como um foguete. A atriz neste período era também uma das mais bem pagas, ganhando mais dinheiro do que o próprio presidente Roosevelt e o jogador de beisebol Lou Gehrig (que por coincidência foi interpretado por Gary Cooper no cinema em The Pride of the Yankees). 

     Jean Arthur se torna então uma das atrizes-chave para a representação daquela que viria a ser a mulher moderna e independente americana (mundial, por que não?). Isso viria a se consolidar mais ainda com os outros clássicos após Deeds. Essa talvez seja sua maior contribuição social através da Sétima Arte. Quem acha que o cinema não é cultura, nem arte, nem sociologia, melhor repensar. 

Jean ganhou 119 mil dólares apenas no ano de 1936, uma fortuna para a época, mais do que o salário do Presidente dos EUA, F. D. Roosevelt 

     A ótima repercussão dos seus trabalhos nunca subiu à cabeça da introvertida Jean, apesar do seu gênio difícil. Nunca se levou muito a sério como artista de cinema, e tinha verdadeiro horror dos ossos do ofício, como publicidade, entrevistas e festas/pré-estreias. Às vezes levava tudo a sério demais e tinha opiniões muito fortes, sem maquiagens. Não era esnobismo, nada contra ao público nem às pessoas, mas Jean simplesmente era assim. Como Garbo, ela era uma grande tímida, com verdadeira fobia social. Mas sua introversão por momentos superava até mesmo a de Garbo, que ainda deixava escapar uma coletiva de imprensa ou outra. Arthur evitava todas as entrevistas que podia, não comparecia aos eventos promovidos pelo estúdio, contornava as sessões de fotos e não gostava de dar autógrafos. Raramente respondia fanmail. A revista LIFE em 1937 a definiu como a "Garbo americana", escrevendo que depois de Garbo, Jean Arthur era a "reinante mulher misteriosa". Chegava a receber jornalistas esporadicamente, e mesmo sendo uma anfitriã cordial, era evasiva, distante, sem revelar quase nada sobre assuntos de natureza privada. "Minha vida particular é assunto meu", disse a um repórter. Qual o enigma de Jean?

Na sua maior paixão: sua solitude. Em Hollywood, CA

Posando com Frank Ross em sua casa, na California. Em raras ocasiões, Jean tentava fazer a social. Os vizinhos mal a conheciam. Os poucos que tinham esse privilégio a descrevem como charmosa e cordial, apesar de tímida e reticente

     Mas não era sempre assim. Os poucos amigos que Jean teve por perto a descrevem como agradável, inteligente, adorável e gentil. Era engraçada com facilidade, naturalmente. Não sabia contar piadas: sabia falar as coisas de forma engraçada, peculiar. Mas claro, muito inibida, fechada em si mesma - ensimesmada. Relapsa em manter relações também. Joan Fontaine conta uma vez em sua biografia No Bed of Roses que após ela e Jean perderem o Oscar, conversaram bem. Primeiro Jean se lamentava (como de costume) por suas tretas intermináveis na Columbia. Depois sobre aventuras na cozinha, e assim decidiram se encontrar no dia seguinte. Joan iria ensinar Jean a cozinhar. Jean não deu as caras no dia seguinte e nunca retornou as ligações. Fontaine ficou intrigada, mas não surpresa. 

     Curiosidade: Jean Arthur e Greta Garbo já se cruzaram. No contexto mais awkward possível. Em suma, Jean e Garbo tinham um contato em comum, e esse indivíduo pediu a Jean que entregasse uma caixa para Garbo, pessoalmente. Jean ficou muito nervosa e ansiosa por encontrar sua ídola, mas não tinha ideia de como se comportar. Ao chegar no apartamento de Garbo, a sueca melancólica desceu e ficou a encará-la. Jean explicou rapidamente a situação e deu-lhe a caixa. Garbo abriu e era uma joia muito cara e ostensiva. Jean nem imaginava o valor do objeto e ficou surpresa a olhar. Garbo fechou a caixa e disse no seu melhor sotaque carregado: "Cuide da sua vida". E se foi... 

Madame Mistério: aproveitou-se de William Powell com Jean (ele insistiu em contracenar com ela) para fazer um cosplay do sucesso The Thin Man (Ceia dos Acusados, com Myrna Loy como a original esposa detetive). Ao contrário das cópias comuns que não têm muito charme, essa comédia é deliciosa porque, além do wit de Powell, Jean entrega seu charme whimsical e talento pessoal para o filme, sem ser só mais uma parceira de cena, tornando-o um ótimo entretenimento. 

     Após Madame Mistério, em 1936 (The Ex-Mrs. Bradford, Stephen Roberts, um empréstimo dela para a RKO), Jean sonhava com férias longas, mas Cohn a colocou direto em dois filmes consecutivos, mas não bem-sucedidos. Adventure in Manhattan e More than a Secretary. Os dois filmes floparam. E ainda assim, em consecutivo, Jean foi emprestada para a Paramount. Mas esse seria um trabalho marcante, que ela considerou seu personagem favorito feito até então. Ela seria Calamity Jane! (antes de Doris Day!). 

Com Joel McCrea em Adventure in Manhattan. Esquecível, mas uma boa matinê. 

Com George Brent numa comédia menor, More than a Secretary, 1936.

Jean Arthur como Calamity Jane, só que sem Secret Love na trilha sonora

     The Plainsman (Jornadas Heroicas, 1936). Dessa vez, um western de peso e respeito! E ainda dirigida por Cecil B. DeMille (diretor este que elogiou a atriz e considerou momentos filmados entre Arthur e Cooper como dos mais românticos já mostrados na tela). Jean fez uma composição sóbria mas cheia de personalidade para sua Jane Calamidade, com firmeza, boas tiradas, rápida no gatilho, sem deixar de lado seu coração de manteiga lá no fundo. Relembrando Gary Cooper anos depois, Arthur o escolheu como "seu favorito" - terrivelmente lindo e fácil de trabalhar, nas palavras dela. 

The Plainsman - Wild Bill Hickok (Cooper) e Calamity Jane (Arthur) juntos numa superprodução de DeMille. Durante filmagens de faroeste em externas, a defensora dos animais exigia que os bichos fossem tratados de forma decente e sem maus-tratos. O ator James Ellison interpretou Buffalo Bill no filme também.

A História Começa à Noite (History is made at night, Frank Borzage, 1937) - um Titanic do final dos anos 30. Jean seria a elegante personagem da Kate Winslet que se apaixona por outro homem (não o pobre DiCaprio, mas o charmoso parisiense Charles Boyer), foge do ciumento ex e os dois terminam num navio prestes a naufragar. Mesmo no drama romântico, Arthur nunca perdia a piada. Será que o final é diferente? Assistam :)

Nem sinal de férias: Jean fez em seguida a screwball Easy Living. Fazendo par com Ray Milland (Farrapo Humano), escrita por Preston Sturges (Sullivan's Travels, Lady Eve, Palm Beach Story) e dirigida pelo charmoso Mitchell Leisen (Midnight, Hands Across the Table, Hold Back the Dawn) - não tinha como dar errado. Aplausos para o timing cômico do esquentado Edward Arnold.

A vida de uma jovem e humilde garota da cidade muda quando, de cima de um prédio, um casaco de pele cai em cima dela por acaso

Com Ray Milland

     Contudo, mesmo tendo trabalho bem com Gary Cooper, seria com James Stewart que seria mais associada. Em Do Mundo Nada Se Leva (You Can't Take it with You, 1938), a dobradinha Capra e Arthur deu certo mais uma vez, e dessa vez com um novo integrante: Jimmy Stewart, ainda dando seus primeiros passos no cinema. Assim como Cooper, Stewart tinha um talento nato para fazer o típico herói americano, seja rico ou pobre. Enquanto filmes como Easy Living tratavam de ser quase que uma metralhadora de gags com personagens cabeça oca, Do Mundo Nada se Leva, apesar de toques de comédia inconsequente, traz consigo os típicos temas de Capra: humanidade, amor ao próximo, valores puros. 

Jean faz parte da família maluquinha do filme

     O argumento veio de uma peça premiada com o Pulitzer, de George S. Kaufman e Moss Hart. É a história de uma família de indivíduos excêntricos que vivem felizes à parte em seus mundinhos, onde Arthur faz parte como a doce jovem Alice Sycamore. Tony Kirby, vivido por Stewart, é o jovem de família rica que se apaixona por Alice. O pai de Tony (Edward Arnold) é um homem de negócios autoritário que só pensa em lucrar. Além do fato de Tony estar apaixonado por uma jovem pobre, a família de Alice vive em uma casa que o Mr. Kirby quer demolir para promover seus negócios. Esse é o começo de uma série de desentendimentos e embates, desde cômicos até tocantes, pois suscitam uma grande reflexão sobre valores humanos acima de bens materiais, afinal, a vida é uma passagem e você não leva coisas consigo (como o título diz). Apenas o que você fez, sentiu, viveu, e o que/quem amou (ou foi amado) é o legado de sua vida. 

     O filme venceu o Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor em 1939.

Não era dos grandes favoritos de Jean, mas ela brilhou mesmo com um grande elenco e recebeu top billing. É um exemplar de Capra menos dramático e mais comédia familiar.

Capra, Arthur e Stewart nos bastidores do filme seguinte: A Mulher Faz o Homem. "Minha atriz favorita"

     Fica claro o apelo forte que Jean Arthur conquistou em Hollywood após tantos sucessos consecutivos. O mais curioso é constatar sua escalada meteórica para quem há poucos anos anteriores vivia apenas um reconhecimento modesto e tanto antes como depois evitava ao máximo a vida pública e o marketing próprio (apesar que nessa época, o estúdio se encarregava por si só, com ou sem o consentimento dos contratados). Uma das estrelas mais antissociais, assim como Garbo, se tornou uma das maiores bilheterias do final da década de 30 e subsequente década de 40. No fim, ela era ela mesma, trabalhou com afinco por si mesma e apenas fazia o que sabia de melhor. Quase nunca satisfeita, mas com profunda entrega. 

Com seu cachorro Pat, em 1939

     O peso da fama caiu sobre Arthur de uma forma com a qual ela não sabia lidar muito bem. Ela era praticamente a maior estrela feminina do estúdio da época. Ganhou dinheiro a ponto de ter uma vida confortável e relativamente estável, para ela e também seus pais (Hubert faleceu em 1944, Johanna em 1959). Morou primeiro em Beverly Hills, depois em Brentwood - em residências espaçosas, bem privadas e escondidas. Com estabilidade financeira e maiores regalias provindas de seu sucesso, Jean começou a ser mais exigente com as propostas de trabalho, comprava briga constantemente com Harry Cohn, sendo muitas vezes até suspensa pela Columbia. Quando não, apenas se recusava a trabalhar ficando em casa, resolvia tirar férias em pausas de gravação sumindo com o marido de carro para longe, sem um rumo (era um tipo de viagem que ela adorava fazer). Adorava ficar na sua casa, lendo seus livros, ouvindo sua música clássica. Outro hobbie favorito era redecorar a casa e escolher sempre nova mobília, objetos e artefatos que combinassem com sua mentalidade idealista e etérea. Adorava aproveitar as manhãs, bem cedo, geralmente com seus bichos (adorava animais, cães e  gatos) e passeava pela praia, dando sempre mergulhos na água fria para começar bem o dia. Longe dos holofotes.

     Honrava seus compromissos profissionais de atriz, mas simplesmente não aceitava fazer filmes ruins ou ter de fingir ser alguém que não era (fora da filmagem), afinal já era muito difícil ser ela mesma. Os colegas de trabalho começaram a chamá-la de "difícil". Por ser perfeccionista e nunca satisfeita com a própria aparência, vamos dizer que não era a mais querida pelos cabeleireiros e pessoal do guarda-roupa. Também não era de small talk com os outros. Após as cenas, simplesmente ia para seu camarim e raramente saía de lá sem ser para filmar. Só socializava mais com colegas de trabalho com que criasse mais afinidade (não necessariamente intimidade, aliás quase nunca, pois a maioria de seus poucos amigos era fora do meio). Se Frank organizasse uma reunião para jogar cartas ou fazer um jantar, Arthur ficava no sofá da sala lendo e depois subia para o quarto. And that's all! 

Tomando sol enquanto o marido Frank e um amigo jogam tênis. Reparem no livro Saint Joan of Arc, de George Bernard Shaw. Ela dizia que seu único arrependimento era não ter se casado com o autor. Jean faria a peça no teatro anos depois

     E então, com o final da década se aproximando, já vinha havendo um intenso furor em volta da grande produção de nada a menos do que E O Vento Levou... (Gone with the Wind, Victor Fleming e George Cukor), que viria a ser tornar a quintessência do cinema americano em 1939. Mas antes de concluído, foram anos de muito trabalho para fazer este sonho filmado em realidade. O romance de Margaret Mitchell fez um sucesso estrondoso, e simultaneamente começaram as negociações para o filme ser rodado. A grande questão, que atormentou David O. Selznick por anos, foi encontrar a atriz ideal para viver a southern belle Scarlett. O mais improvável foi a comediante Jean Arthur, antigo romance do produtor, por seu grande apelo de bilheteria, ter sido uma das fortes concorrentes para o papel! A hipótese mais aceita é Jean, "for the old time's sake", ter pedido para Selznick a oportunidade de fazer o teste e ele ter aprovado. 

     A disputa foi acirrada. Dezenas, até centenas de atrizes fizeram teste. Muitas atrizes de fato sulistas como Miriam Hopkins e Tallulah Bankhead não conseguiram (apesar que Tallulah foi cogitada). Nomes fortes como Katharine Hepburn e Bette Davis (que se recusou a ter Errol Flynn como Rhett Butler) também não foram finalistas na disputa - as duas eram yankees demais. O páreo final terminou sendo Paulette Goddard (foi a mais próxima de vencer), Joan Bennett, Jean Arthur e Vivien Leigh, como podemos ver no vídeo abaixo com os testes. 

A procura pela atriz que viveria a heroína Scarlett O'Hara foi a mais disputada da história de Hollywood

O teste de Jean Arthur para o papel de Scarlett O'Hara. Incrivelmente, against all the odds, Jean acabou sendo uma das finalistas para o papel. A maioria crê que ela nunca foi uma candidata levada a sério, mas ela se dedicou de coração até o final. Vivien Leigh ficou com o papel e fez história.

Rádio performance (áudio) da atriz como Jezebel, a outra famosa Southern Belle que foi vivida por Bette Davis no cinema, como a resposta da Warner para GWTW

Fiddle-dee-dee! Na voz throaty-foghorn da Jean, salvo o seu talento, o filme teria se tornado uma grande comédia

     A perda do papel de Scarlett foi um golpe, de uma forma ou de outra, para todas. Porém Jean não teve muito tempo livre para se lamentar... Na mesma época ela fez um hit, um dos maiores de sua carreira. 1939 não a deixaria de fora, este que foi e é até hoje o maior ano na história cinematográfica. Clark Gable e Vivien Leigh em E O Vento Levou. Judy Garland e companhia em O Mágico de Oz. Greta Garbo e Melvyn Douglas em Ninotchka. John Wayne e Claire Trevor em No Tempo das Diligências. Robert Donat e Greer Garson em Adeus, Mr. Chips. Bette Davis e George Brent em Vitória Amarga. Laurence Olivier e Merle Oberon em Morro dos Ventos Uivantes. É uma verdadeira constelação de estrelas. E finalmente, James Stewart e Jean Arthur em... A Mulher Faz o Homem! 

Esse para mim é o melhor filme do Capra - daqueles que definem "Cinema"

     Ao invés de falar, falar, falar sobre a sinopse, deixo um trecho do filme para os interessados. Para nós, desiludidos com a política, com os problema do mundo e até mesmo com o ser humano em geral, uma cena como essa do discurso do Jimmy no Senado americano cheio de cascavéis (Hello, Brazil), é de lavar a alma. Catártica até. 

     Needless to say, esse filme foi um arrasa-quarteirões, repetindo a fórmula de sucesso de Capra nos seus contos do homem comum americano (trilogia Mr. Deeds - Mr. Smith - John Doe). Tanto em Deeds como Babe e em Smith como Clarissa Saunders, Arthur faz a mulher de carreira sabichona cercada de cobras; que conhece e se solidariza pelo herói; e no processo de resgatar e salvar esse herói (um jovem rapaz idealista que é usado pelos corruptos) para colocá-lo de volta nos trilhos e salvar o dia, ela mesma se torna a grande heroína. Assim a tradução brasileira ("A Mulher Faz o Homem") é significada: sempre há uma grande mulher por trás de todo grande homem. Foi o segundo e último trabalho de Jimmy com Arthur, e o ator disse que foi a melhor atriz com quem ele havia trabalhado. "Ninguém tinha seu humor, seu timing", de acordo com ele.

     Dessa vez, apesar do belíssimo trabalho da produção como um todo, o filme foi mais indicado do que vencedor da Academia em 1940. Venceu apenas por Roteiro Original. Gone with the Wind acabou levando maior parte das estatuetas principais. Com tantos astros e cineastas de peso na disputa, sinto até pena dos votantes. Mas foi triste ver James Stewart perdendo, pois de longe foi seu melhor trabalho (apesar de ser fã de Robert Donat). Ele venceria no ano seguinte, como consolo, por Núpcias de Escândalo (The Philadelphia Story, 1940, George Cukor).  Vivien Leigh era a rainha da noite como Melhor Atriz, isso ninguém tinha dúvidas. Mas Jean Arthur, novamente, foi esnobada pela Academia, sem nem ao menos ter sido indicada. Sua primeira e única indicação ao prêmio estaria por vir... 

Arthur e Stewart, apesar da excelente química, nunca foram de muita intimidade em off

     Mais uma estrelinha para a constelação de 39: um filme relativamente esquecido e subestimado por sinal, deveras curioso aliás. Adivinhou? O Paraíso Infernal ! (Only Angels Have Wings, Howard Hawks, 1939). Bem, esse filme é bem nada a ver e meio esquizofrênico, mas o set foi babado, confusão e gritaria. ~~Vem gente, vem gente! *na voz da Xuxa quando o Xuxa Park pegou fogo*

Cary Grant, apesar da classe e do talento incomparáveis, era um ladrãozinho de cena. Arthur não gostou e revidou num filme seguinte.

"Eu adorei afundar minha cabeça no peito de Cary Grant" ARTHUR, Jean

E eis que trocam-se as cadeiras e surge na parada a nova rainha da Columbia: Rita Hayworth

     Well, esse filme é uma xaropada de elementos como aviação, triângulo amoroso, mortes que todo mundo tá nem aí, animais do nada no meio das cenas, sequências ousadas de sexo sem sexo, e por aí vai. Mas é dirigido pelo Howard Hawks para pôr um pouco de ordem no barraco (ou não, né, já viram The Big Sleep? Se entenderam alguma coisa, me mandem uma mensagem). Porém eu curto e acho um entretenimento de qualidade, e com um elenco show. 

     Foi provavelmente o primeiro grande filme da Ritinha, ainda afirmando os princípios da imagem que ela acabou adotando (e virando uma vítima dessa mesma imagem de "Gilda" posteriormente). Rita era muito tímida, fechada mas muito determinada no trabalho, assim como Jean Arthur. As duas eram librianas do mesmo dia, sentiam praticamente os mesmos receios, mas... O santo não bateu. Na verdade, não houve intriga propriamente. O que sabemos que, de fato, ocorreu, é que em algum momento do filme fotos publicitárias eram necessárias e a produção pediu para reunir Arthur e Hayworth juntas para uma sessão. Arthur alegadamente disse: "Essa garota bonita e eu? Pode esquecer". A verdade é que Jean se sentiu ofuscada e diminuída pela beleza aparente de Rita (mal sabia que Rita era outra bela cheia de complexos também, acho que talvez duas complexadas juntas não tinha como ornar né rs). ENFIN, como diz Val Malchiori, Jean acabou descontando um pouco em Hayworth com sua, na verdade habitual, indiferença.  Rita afirmou que Jean não falava com ela nos bastidores. Anos depois, um pouco mais vivida e consciente das coisas, Arthur revelou ter se arrependido da postura que teve com Rita durante o filme. Boatos que, além da questão da beleza, Arthur supostamente se sentiu ameaçada pela nova estrela em ascensão. Sua relação com o chefão Harry Cohn que nunca foi boa, já era péssima, e seus dias de glória na Columbia chegavam perto do fim, enquanto os de Rita começavam (mas também nenhum mar de rosas, se vimos sua biografia), e nos anos 50 seria a vez de Kim Novak surgir como a nova beldade da Columbia Pictures.

Um estranhamento acidental, depois esclarecido


O seguinte filme: Too Many Husbands (pôster francês). Insegura ao extremo, Jean não conseguia se sentir atraente o bastante para ser disputada por dois homens. Quando MacMurray fez piada de que uma cena poderia ser feita com a cara dela coberta por um cobertor, ela chorou se sentindo feia, achando que ele falava a sério.

Too Many Husbands (Bigamia, 1940, Wesley Ruggles) trazia uma história de triângulo amoroso onde Jean era recém-casada com um mas o marido supostamente morto ressurge, semelhante à formula de My Favorite Wife (Cary Grant e Irene Dunne, fizeram muito sucesso) / Something's Got to Give (com Marilyn, inacabado pela morte da atriz) e Move Over Darling (com Doris Day). Apesar de uma gostosa comédia com bastante cinismo e incorreta politicamente, não foi um grande filme para os envolvidos

Arizona, também em 1940 e dirigido por Wesley Ruggles, foi outro filme que passou batido. Um pioneiro exemplar de western feminino que não conseguiu engrenar. Arthur foi apresentada a William Holden e simplesmente se virou e saiu, sem falar nada, num caso exemplar da sua falta de tato social. Holden ficou chateado, mas ao longo das filmagens se entenderam. Filmado em Tucson para dar mais veracidade ao filme, Arthur se recolhia na sua caverna da obscuridade e se preocupava mais com os animais do que com os humanos do filme. A diferença de idade e de química entre os dois não ajudou o filme. Vale o ingresso, though.

      The Devil and Miss Jones (O Diabo é a Mulher, Sam Wood, 1941) após dois filmes sem brilho, já foi um investimento mais feliz. Foi produzido em conjunto com Norman Krasna (roteirista do filme) e Frank Ross, marido de Jean. Ele vinha e viria a produzir com sucesso várias produções famosas e caras, como O Manto Sagrado (The Robe, Henry Koster, 1953). O casal havia criado uma produtora, mas que durou pouco tempo, lançando apenas este e um seguinte filme com John Wayne, que já falarei adiante. Na verdade, Jean e Frank já começaram a se estranhar nessa época, por diferenças pessoais. Não se sabe de muitos detalhes da intimidade dos dois, mas aparentemente a relação foi se desgastando. O casal foi se distanciando gradualmente e se separaram, apesar que o divórcio formal só sairia em 49. Viveram ainda 7 anos juntos, mas apenas por conveniência até o divórcio sair. Ross se casaria depois com a também atriz Joan Caulfield, e já vinha tendo um caso com ela - o que provavelmente aborreceu Arthur profundamente. Jean por muito tempo guardou ressentimento do ex-marido e só se reaproximaram décadas depois. Há mais fofocas que contarei mais adiante. 

Os Produtores

Produtor Frank Ross com a seguinte esposa, Joan Caulfield - todos o consideravam "um gentleman". Arthur ressentiu o ex por muitos anos

Apesar da aparente crise conjugal, as filmagens ocorreram smoothly

Miss Jones recebe o diabo de braços abertos, no caso, o chefe magnata que se disfarça para conhecer melhor os empregados e se humaniza com o decorrer das situações bizarras que se dão, pelo jeito free spirit e clueless de Ms. Jones. O filme brinca com o as relações de trabalho e também as questões sociais e pessoais na terceira idade, de uma forma divertida e satírica

Charles Coburn e Norman Krasna receberam indicações por Ator Coadjuvante e Roteiro. De cabelo mais reto com franja, Jean tentava renovar a imagem

Num raro momento descontraído e mais revelador, Jean aceitou fazer um photoshoot de fotos "cheesecake" (mostrando as pernas e o seu sex appeal). Nos filme seguintes, Jean pôde explorar mais sua imagem de mulher sensual e desejável. Provavelmente o fato do seu marido ser o produtor do filme a fez aceitar a proposta.

Arrisca-te, Mulher! (A Lady Takes a Chance, William A. Seiter, 1943) foi o segundo e último filme da produtora dos Ross, dois anos depois. John Wayne gostou de trabalhar com Arthur e vice-versa, apesar dos rumores contra a introversão da atriz. A primeira cena dos dois juntos é cômica: em um rodeio, Wayne é atirado para longe e cai bem em cima dela. O filme é super bobo, mas cativante na sua ingenuidade.


Como quase todos os filmes que estou citando, ele também está disponível no Youtube

Mais fotos raras cheesecake, para a promoção do filme

     Cary Grant e Jean se encontraram novamente, dessa vez no filme E A Vida Continua... (The Talk of the Town, George Stevens, 1942). Este é um exemplar pitoresco na carreira dos envolvidos. É um filme que traz dilemas interessantes conduzidos com drama melodramático e também com momentos mais leves e de comédia até escrachada. Um filme curioso que, apesar de ter certas desequilíbrios para dosar a comédia e o drama altogether, é feliz em nos entreter com uma história peculiar mas não menos real - com as liberdades poéticas típicas de Hollywood. Cary Grant e Ronald Colman, dois galãs de ego inflado, aceitaram dividir o protagonismo do filme, com Arthur como mediadora. As gravações foram tranquilas. Colman recitava textos para Arthur, encantada, nos intervalos. Formado o triângulo amoroso, deixo sem responder com quem Arthur escolhe ficar no final do filme...

 

Com Cary Grant pela segunda e última vez. Ela tinha 1,60m de altura contra 1,87 de Grant

     Revidando o "upstage" (roubo de cena) de Grant em Paraíso Infernal, Arthur aproveitou a cena final para fazer palhaçadas, que estavam no roteiro, mas de forma tão carismática que acabou roubando toda a atenção para si. Grant ficou uma fera, mas não podia fazer nada. 

Gosto particularmente desse pôster. Basicamente Cary (não tão elegante quanto na imagem) é acusado injustamente de um crime e busca refúgio na casa de Jean, mas mal contava ele que o ilustre advogado Colman está na casa e pode pôr tudo a perder. Será que Cary é mesmo inocente? Jean resolve esconder Cary, mas os desfechos são inesperados... 

     O diretor George Stevens, conhecido por suas relações complexas com seus intérpretes (vide Katharine Hepburn em Alice Adams), considerava Jean "uma das melhores comediantes que o cinema já viu", rendendo ainda mais dois filmes do diretor com a atriz após este. Arthur, por mais palhaça que fosse na tela, era uma comediante extremamente metódica e perfeccionista. Consequentemente, se identificava com a direção precisa, repetitiva e lenta de Stevens, enquanto outros atores mais ansiosos arrancavam os cabelos com tantos takes. 

Incrivelmente, a atriz já tinha 41 anos neste filme. O cabelo de Arthur já aparecia mais escuro nesses trabalhos, e com penteados mais variados, desde franjas, trancinhas, liso solto ou mais curto e enrolado. Sua aparição com pijama masculino é bem interessante para a época, como Bette Davis fez em Uma Velha Amizade, na Warner

     Agora, um parênteses curioso. Eu disserto sobre os rumores de um suposto relacionamento entre Jean Arthur e Mary Martin que circulavam desde aquela época. Desde sempre, por sua natureza introvertida, por vezes até masculina e andrógena, correram boatos sobre uma possível bi/homossexualidade de Arthur. Preferia calças ao invés de saias ou vestidos, como Hepburn e Dietrich, até aí ok. Mas nada até hoje comprovou de fato que os rumores fossem verdade, mas também não é impossível. Entre os anos 40 e 50, as atrizes partilharam muitos momentos juntas, socialmente e em reuniões privadas - raros momentos em que Jean abria sua casa para alguém. O casamento de Arthur já não andava bom. Martin era uma das poucas pessoas que poderiam se considerar "amiga próxima" de Jean. E por coincidência, as duas fariam o mesmo amado personagem no teatro: Peter Pan. 

Os trabalhos como os de Martin e Arthur interpretando garotos são exemplos que influenciaram uma geração de espectadores, encantados com a brincadeira sutil na questão de gênero, ainda tabu

     As duas mulheres eram casadas, bem-sucedidas, um tanto fora dos padrões esteticamente e nos seus hábitos excêntricos. Mary ainda foi mãe, enquanto Jean nunca teve filhos (a maternidade nunca fez sua cabeça, nem se encaixava no seu estilo de vida). Martin fez mais sucesso nos palcos da Broadway, em produções grandiosas como South Pacific e Alô Dolly, e às vezes aparecendo no cinema, como no filme Night and Day (A Canção Inesquecível, Michael Curtiz, 1946).

     É muito provável que Jean tenha tido experiências tanto com mulheres e homens, desde a juventude, se pensarmos na loucura libertina dos roaring twenties ou na sua necessidade patológica por privacidade nos anos 30 em diante, já uma estrela. Não é descartado um eventual affair entre as duas artistas, já que partilhavam uma intimidade confortável (algo que Arthur raramente tinha com alguém), mas é algo que nunca saberemos. É mais coerente concluir que Jean Arthur não era dada a romantismos e com o decorrer dos anos se tornou praticamente assexual. Ela era mais propensa a ter relações platônicas, preferindo estímulos intelectuais do que carnais (como Garbo). Depois da separação com Ross, e de um romance fugaz com um psicólogo de Chicago no final da década de 40, a vida afetiva de Jean Arthur é realmente uma incógnita. A solidão foi sempre uma constante em sua vida.

     Mas os rumores entre Mary Martin e Jean Arthur inspiraram até mesmo a ficção, como o livro The Princess and The Goblin, nos moldes de histórias apelativas e histriônicas passadas em Hollywood como O Vale das Bonecas. 

As amigas íntimas Mary Martin e Jean Arthur, nos bastidores de The Talk of The Town

Martin como participação especial na cinebiografia fantasiosa e mágica da vida de Cole Porter. Cole detestou o filme. 

Segundo Rosner, apesar das semelhanças com a relação Martin-Arthur que povoava o imaginário de Hollywood, todo o conteúdo do seu livro The Princess and the Goblin foi "pura imaginação"

      A insatisfação de Jean com a própria carreira crescia.  Mesmo sendo uma estrela e tendo ganhado muito dinheiro, não se sentia realizada como atriz. Apesar do seu talento, os papéis não tinham de fato dado a ela a realização que tanto almejava em um trabalho dramático, um verdadeiro tour de force. Não via a hora de se aposentar do cinema, após ter emendado tantos filmes. Ela não viu a hora de seu contrato com a Columbia Pictures acabar - coisa que ocorreu, enfim, após muitos anos de trabalho, em 1944. Alegam que a atriz saiu correndo de alegria pelo lado de fora do estúdio gritando: "Eu estou livre, eu estou livre!" (I'm free, I'm free!). 

Os anos impacientes estavam por vir 

"Eu não sou uma adulta, essa é a minha explicação de mim mesma. Exceto quando estou trabalhando num set, eu tenho todas as inibições e timidez de uma criança envergonhada, para dentro. A não ser que eu tenha algo muito em comum com uma pessoa, eu estou perdida. Eu sou engolida pelo meu próprio silêncio"

     Antes de sua aposentadoria, Jean protagonizou uma de suas melhores comédias: Original Pecado (The More The Merrier, George Stevens, 1943) - também traduzido, ao pé da letra, como Quanto Mais Melhor. Jean foi aos poucos mudando um pouco a composição das suas personagens com o passar do tempo. A mulher ácida com uma carreira séria e lapsos de humanidade dos filmes de Capra ia dando espaço para uma mulher mais comum, a típica "girl-next-door", mas com uma individualidade própria que Jean sempre imprimia nas suas personagens, até em coisas triviais como escovar os dentes ou a entonação com que dizia algo, ou a forma como fazia uma cena que na mão de outras atrizes, passaria em branco. Conseguia fazer uma mulher bêbada sem soar dramática ou vulgar.

     Curiosamente, Capra convidou Jean para protagonizar A Felicidade Não Se Compra (It's a Wonderful Life, 1946), mas a atriz recusou. Talvez estivesse cansada de ser a musa dos filmes de Frank Capra - na verdade, ela não queria trabalhar com James Stewart de novo (detestava as políticas dele). O papel ficou com Donna Reed. Mais curioso, Donna Reed venceu o prêmio de Atriz Coadjuvante por A um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953, Fred Zinnemann), no mesmo ano em que Jean fez Shane (e foi esnobada). 

Essa girl-next-door você não acha na next door! O ar jovial de menina escondia uma mulher detalhista e muito insegura

     Durante a Segunda Guerra, Dingle (Charles Coburn, o avô de todos) procura uma casa na Washington entupida de gente, até que finalmente encontra a casa de Connie para alugar junto com ela. A moça reluta, ainda mais quando surge Joel McCrea como um sargento que também procura um lugar para ficar. Dingle sugere alugar metade da metade da parte dela da casa, e no fim Connie aceita e os três moram na mesma casa. 

Jean apostou em personagens mais povão com sensualidade nas suas últimas comédias

Um pouco do guarda-roupa da atriz

      Connie é noiva de um cara não muito simpático, o que dá a ideia para o velho fazer o cupido entre Connie e o sargento rústico. Damn the Torpedoes, Full Speed Ahead! (vendo o filme, a quote vai fazer sentido).

Arthur imprimia toques pessoais até em pequenos gestos

     O filme rendeu a primeira e única indicação ao Oscar para Jean Arthur na categoria Melhor Atriz. A concorrência foi pesada, com nomes como Joan Fontaine, Ingrid Bergman, Greer Garson junto dela. Quem levou a melhor foi Jennifer Jones, a nova querida e futura mulher de Selznick, por A Canção de Bernadette (The Song of Bernadette, Henry King, 1943). Apesar do esnobismo da Academia com a atriz, avessa à politicagem, lobby, publicidade e campanhas, foi uma vitória a sua indicação dentro de uma indústria que supervaloriza o status e produções/performances de teor extra-dramático, deixando de lado muitas vezes as comédias de qualidade e perspicácia, que não caem no escracho vazio ou no piegas clichê. Foram poucos atores e atrizes vencedores por um trabalho cômico até hoje. Quer dizer, em lapsos bizarros o Oscar premiou comédias/dramédias sem pé nem cabeça também. But that's another story.

O estilo lento e meticuloso de Jean Arthur no trabalho combinou com a direção rígida de George Stevens

     Apesar da derrota de Jean, Coburn venceu por Ator Coadjuvante pelo filme. Prestes a deixar a Columbia, é claro que o estúdio não fez esforço nenhum em promover o trabalho de Arthur para o Prêmio.

Foi difícil pegar o timing perfeito para as cenas que requeriam um cronômetro preciso, tanto físico quanto cômico (romântico/sexual sem parecer artificial nem explícito demais)

O filme tem malícia, tiradas e tensões sexuais bem calientes pra época. Apesar de aparente atração por Connie, Dingle faz a vez de cupido pelo casal love-hate de Arthur e McCrea. A química do threesome deu super certo.

Após várias brigas e suspensões, para terminar seu contrato, Jean aceitou fazer o filme The Impatient Years - Duas Vezes Lua de Mel - que é uma comédia gostosinha do período da WWII, mas não fez muito sucesso. Apesar de ter aprovado o ator, a atriz não teve muita química com Lee Bowman. Nem Charles Coburn de coadjuvante conseguiu salvar muita coisa. Foi o último filme de Jean sob contrato, encerrando sua vida como atriz de estúdio. Foi o segundo e penúltimo filme onde fez uma mãe - papel que evitava no cinema e na vida.

     E enfim, depois de tanto querer esse momento, chegava ao fim o seu contrato com a Columbia. Jean queria aproveitar a vida de outras formas: estudando, atuando no teatro, fazendo as suas coisas favoritas dentro de sua reclusão. Isso não quis dizer que a atriz não faria mais filmes nunca mais, apesar de ser muito relutante e exigente em aceitar as propostas que lhe vinham. Recusava praticamente tudo. Só aceitou sair de sua caverna para fazer dois filmes depois daqui: A Mundana e Os Brutos Também Amam. 

Torta de climão no ar...

     Um roteiro de Richard L. Breen e os parceiros imbatíveis Charles Brackett e Billy Wilder (também diretor), realmente não poderia dar errado. Mesmo que não seja dos mais lembrados de Wilder, é um filme divertido e afiado na questão política. O filme foi corajoso em filmar na Alemanha pulverizada do pós-Guerra quase que num tom documental, ousado para a época. A esperta brincadeira do filme joga com a relação dos americanos com os alemães de uma forma cínica e sagaz, sem perder o bom-humor apesar do contexto histórico conturbado. Alguns desdenham o filme como um desastre, outros o exaltam como um bom exercício cômico e até histórico. Há os que se dividem: uns elogiam o desempenho de Jean Arthur, outros exaltam Marlene Dietrich. A escolha é sua. 

     Phoebe Frost é uma congressista americana do estado de Iowa recém-chegada na Alemanha, junto de uma grande trupe, para estudar o comportamento dos soldados americanos. Erika von Schluetow é uma cantora nazista de cabaré protegida pelo Capitão Plinge (John Lund). Phoebe pede ajuda ao Capitão para descobrir quem é o oficial americano protetor da cantora, sem saber que ele mesmo é o dito cujo. 

     As farpas trocadas entre a americana provinciana e a nazista elegante pareceram ir além do faz-de-conta. Pode ser que Jean levasse a sério demais as ofensas de Dietrich quanto à sua aparência e suas roupas... "Seu vestido está ao contrário". "Sua cara sem maquiagem parece um chão de cozinha". "Esse é um jeito engraçado de pentear o cabelo. Ou de como não pentear". Durante as filmagens, Marlene não escondeu seu desprezo e indiferença com Arthur, que já não era lá muito popular.

Não foi apenas no filme: Arthur e Dietrich se odiaram nos bastidores de A Mundana

     A paranoia começou a ser uma constante na carreira da americana, o que a fez se tornar sempre uma vítima da autossabotagem. Durante as gravações de A Foreign Affair, Jean se sentiu deslocada na atmosfera alemã do set, pois Marlene se sentia em casa com o filme, enquanto o próprio Wilder era austríaco com anos de vivência no país germânico, logo se entrosaram muito bem. Jean se sentiu excluída e ainda ofuscada pela beleza e magnetismo habituais de Dietrich, dona também de uma personalidade muito forte. Um certo dia, Jean bateu na porta de Billy, às lágrimas e ao lado do marido, acusando o diretor de estar sabotando a performance dela em favor de Marlene (ela ainda achava que os dois estavam tendo um caso). Para o espanto do diretor, ele mostrou a ela os copiões do filme e disse que ela estava incrível no filme, com sinceridade, o que acalmou a atriz tão insegura de si própria. E ele realmente falava a sério, porque se não o fosse ele não pensaria duas vezes em dispensá-la. 

     Depois do filme, Marlene nunca deu a mínima para Jean Arthur, sempre ignorando qualquer ocasião em que alguém lembrasse de Jean Arthur a ela em alguma conversa. Já Jean guardou uma mágoa eterna da diva, mas não deixava de lado o fascínio pelo ícone. Um amigo em comum de ambas matava a curiosidade de Jean quanto à vida de reclusão de Marlene em Paris. 

     Um momento Jean Arthur muito comum. Quase quatro décadas depois, Arthur assistiu ao filme na televisão e fez questão de ligar para Billy Wilder e dizer que achou maravilhoso. O diretor ficou surpreso com a atitude, e mais ainda quando a atriz perguntou se, depois de tanto tempo, eles ainda poderiam ser amigos... Ele disse que sim, maravilhado. 

Marlene na sua arte suprema: ser ela mesma. Considerou esse um dos melhores triunfos de sua carreira. Mesmo alemã e amante de sua pátria, não recusou interpretar uma nazista e sempre foi uma combatente ferrenha contra o regime de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha fez de Marlene persona non grata por muito tempo. Ela nunca mais voltou a morar lá, preferindo Paris,na França, até sua morte em 1992

     Um biógrafo tentou durante os anos 70 convencer Jean a escrever um livro de memórias. Ela nunca levou a ideia a diante. Num único momento, ela entregou três páginas ao editor falando de Marlene Dietrich. Nas três páginas, cheias de amargura, ela sequer mencionava o nome da estrela. 

     Ela nunca escreveu o livro. 

Penúltimo filme de Jean Arthur. Apesar dos defeitos, foi um dos primeiros filmes do Pós-Guerra a tratar da situação política de forma explícita 

     Nos anos 50, também pela Paramount, Jean aceitou aquele que seria seu último filme:  o faroeste Os Brutos Também Amam (Shane, George Stevens, 1953). Seu canto de cisne se tornou também seu filme mais rentável - foi um sucesso no box office. E também o único filme de sua carreira em cores! 

     O filme, pela concepção de Stevens, é um faroeste sem glamour, crepuscular. Não existe fetiche nenhum pela arma: ela é um instrumento perigoso, mortal. Ponto. O que está em questão são as relações humanas, os conflitos, as questões históricas por detrás de tanta briga, tanto trabalho, tanto sangue derramado. Já nos anos 50, o Velho Oeste é mostrado de uma forma rarefeita e desencantada, mas em cores, na widescreen para atrair os espectadores acostumados com o quadrado da televisão, em ascensão no momento. Mesmo no desalento do Wyoming, a revolta de Arthur, a baixeza dos homens gananciosos, o silêncio do Shane de Alan Ladd e o deslumbre inocente do garoto Brandon deWilde pelo seu novo herói - os sentimentos são pungentes, são a vida. 

"Vocês estão fora do juízo de vocês. Se matando por um pedaço de terra, e trabalho, trabalho, trabalho. Eu estou cansada disso!" diz Marian (Jean Arthur), cansada da interminável luta pela sobrevivência na terra que os próprios avós da atriz ajudaram a carpir 

     Marian, personagem de Arthur, é esposa do fazendeiro Starrett (Van Heflin) e mãe do garoto Joey. Shane (Alan Ladd, eterno durão dos anos 40) é um forasteiro lacônico e misterioso que chega para trabalhar e viver decentemente, dando poucas pistas de seu passado, o que intriga a todos. Marian, cansada da luta constante de seu povo naquelas terras e da vida medíocre que leva na fazenda, fica encantada por Shane - não tanto pelo corpo físico, mas mais pela ideia que Shane representa: uma fuga daquele mundo sujo, o mistério. "Não goste muito dele, ele pode ir embora a qualquer momento", diz para o filho (e para si mesma, em pensamento). Os conflitos de terra pioram e Shane se mostra um excelente atirador. Solidariza com a causa e resolve enfrentar os machões da região, mesmo que tenha de deixar o lugar e seguir novamente como um andarilho, com o fardo de ter de carregar a sua arma consigo... Com o eco de "Shane, come back" do menino Joey morrendo enquanto luz do sol que se põe, do dia que morre e que se vai... 

Filmagens de Os Brutos Também Amam, 1952-1953. Os atores trabalhavam até tarde e voltavam a gravar cedo. "Por isso parecíamos um trapo, era pra parecermos um trapo". 

     Apesar de sua natureza tímida, a atriz tinha noção de si mesma como estrela várias vezes. Em A Mundana, exigiu ter seu nome acima do de Dietrich para fazer o filme. Nos anos 50, já uma recém-cinquentona, Jean estava ciente do envelhecimento e não queria fazer papéis de character actress, "velha e acabada", ou fazendo mãe das atrizes mais novas. Mas sempre muito jovial, por dentro e por fora, em Shane ela passa estar na faixa dos 30, e não dos 50.

     Obviamente, a Paramount não mexeu uma palha nem uma agulha para promover Jean numa indicação ao Oscar. Brandon deWilde e o cara-de-mau Jack Palance (vilão do filme) foram os únicos atores indicados como Coadjuvantes. Nem Alan Ladd recebeu nenhum reconhecimento pelo seu trabalho, este que é com certeza o melhor de sua carreira! SHAME. 

Com o passar das décadas, as plateias passaram a notar mais a talentosa sutileza tanto de Jean como da relação Shane-Marian que é o eixo principal do filme. 

     Encerrado o cinema em sua vida, a vida de Jean Arthur nunca se resumiu apenas à Sétima Arte, e aquele final da década de 1940 foi bastante agitado na vida da eterna idealista. Teatro, estudos, até mesmo terapia. Em 48, se consultou com o psicanalista Erich Fromm, alemão fugido do Nazismo e estabelecido nos Estados Unidos. Também filósofo e sociólogo, o alemão encantou Jean Arthur por suas visões humanistas a favor da liberdade. Liberdade era uma tema caro para a loirinha Jean: ela era uma defensora eterna da imaginação, da autenticidade, da democracia, da não-conformidade com o status quo. No seu livro Escape from Freedom (O Medo à Liberdade, 1941), Erich Fromm disserta sobre como a liberdade assusta o ser humano, pois ele é obrigado a encarar a solidão, a ansiedade, o caos. Logo, ele afirma que regimes totalitários ascendem justamente por uma necessidade humana de controle, repressão, alienação da realidade, como uma zona de conforto. Ser livre é amplo, é difícil. É difícil ser autêntico, original, num mundo onde se impõe o status quo e se condena quem é diferente. Amigos íntimos não poderiam dizer que a terapia ajudou Jean a ser mais satisfeita com a própria vida ("She was no Pollyanna", um diria). Mas foi bom para ela num nível pessoal, a aceitar certas coisas, a conseguir rir de si mesma, e por toda a vida se sentiu grata a Fromm.

"O indivíduo deixa de ser ele mesmo; ele adota inteiramente o tipo de personalidade oferecida a ele pelos padrões culturais e sociais; e ele então se torna exatamente como os outros são e como é esperado que ele seja... A pessoa que desiste de seu próprio ser e se torna um ser mecânico, idêntico a milhões de outros robôs ao redor dele, não precisa mais sentir solidão nem ansiedade. Mas o preço que o indivíduo paga, entretanto, é alto; é a perda do seu próprio ser."

Erich Fromm, sobre a conformidade compulsiva e uma possível explicação psicológica para o avanço do totalitarismo no mundo

     Em 1947, Jean frequentou aulas na Stephens College, na cidade de Columbia, no Missouri. A estudante notória não fez feio e era muito aplicada e bem articulada, mas de poucos amigos. Lia com afinco e defendia com garra os princípios que considerava essenciais na sociedade. Seu sonho era ter dinheiro suficiente para parar um pouco de trabalhar e estudar mais, já que havia abandonado o colégio décadas antes. Escolheu a faculdade porque Maude Adams, atriz famosa por ter feito o primeiro Peter Pan da Broadway numa célebre montagem do teatro americano, lecionava artes dramáticas na Stephens e ficou um tanto intrigada com o fascínio da atriz por ela. "Por que essa mulher fica me encarando, quem é ela?". As duas foram devidamente apresentadas. 

Maude Adams como o primeiro Peter Pan na América em 1905. Nina Boucicault foi a primeira artista a interpretar o personagem, nos palcos de Londres em 1904

Jean Arthur nos bastidores de Born Yesterday, a produção que não era pra ser. Paul Douglas e Gary Merrill seriam seus colegas de cena. Final de 1945

     Voltemos um pouco no tempo. O ano era 1945. O renomado autor Garson Kanin, amigo de Jean, mesmo sabendo das excentricidades da atriz, apostou suas fichas no talento da mesma para a comédia. A peça era Nascida Ontem, que virou depois filme de George Cukor com William Holden, Broderick Crawford e a loirinha Judy Holliday - seu papel deu-lhe o tão controverso Oscar no ano 1951, desbancando as favoritas Bette Davis (por A Malvada - All About Eve, dir. Joseph Mankiewicz) e Gloria Swanson (Crepúsculo dos Deuses) na época. Antes de ir para o cinema, ainda uma desconhecida, Judy fez o papel da loirinha Billie Dawn, nessa clássica histórica da loira burra que começa a estudar e contestar a sua realidade - seu amante milionário inescrupuloso e vil. E se apaixona pelo seu professor jornalista charmoso. 

Fair play: Gloria Swanson, nunca deslumbrada pelo prêmio, cumprimenta Holliday. Ao contrário do pensamento popular, Gloria era uma mulher com os pés no chão e sem as afetações de Norma Desmond como mostra o filme Sunset Boulevard

A loura se mostra mais inteligente que os sabichões à sua volta

     Deveria ser mesmo o destino, pois o fracasso de Jean Arthur foi a grande chance de Judy Holliday para o sucesso. Não há como dizer que uma é melhor do que a outra, mas Judy era mesmo mais adequada para o papel, realmente nascida para ele. Mas as neuroses passaram a tomar conta de Jean, e contribuíram para a atriz criar um terrível medo do palco (stage fright). Esse medo do palco a perseguiu até o final da vida, pois até sua morte em 1991, Jean tentou fazer teatro cinco vezes e, com exceção de Peter Pan, flopou todas as vezes, sempre por razões diferentes. Isto é, no fim pelos mesmos motivos... 

Entre tantos fiascos, um auge saído da Terra do Nunca

     As razões para Jean ter abandonado a peça Nascida Ontem são obscuras. O sucesso da peça poderia ter dado um up em sua carreira tanto teatral como no cinema. O que se sabe é que Jean, já separada de Ross, havia se apaixonado por um médico de Chicago, mas foi uma perfeita ilusão. Supostamente, com a vida pessoal em frangalhos, a atriz estava se sentindo abandonada e sozinha. Insatisfeita com os rumos da produção e consigo mesma, Jean ficou doente e abandonou o projeto, dando a vez para Judy Holliday de brilhar. Felizmente, em 1950 um de seus maiores sonhos se tornou realidade: ela faria Peter Pan na Broadway!

"Eu sou a juventude, a eterna juventude, eu sou o sol nascendo, eu sou os poetas cantando, eu sou o novo mundo. Eu sou um passarinho recém-nascido. Eu sou alegria, alegria, alegria!" - Jean como Peter Pan, na Broadway. Mary Martin podia ter mais apuro vocal para musicais, mas Arthur era a alma gêmea do personagem

     Após muitos aborrecimentos com projetos malsucedidos e frustrações particulares, Jean pôde desfrutar um pouco de realização profissional - e pessoal - com Peter Pan. Era um sonho realizado, e para sempre seu trabalho predileto, considerado por ela mesma a melhor performance de toda sua carreira. Fácil dizer o porquê: ela se identificava com Peter em todos os sentidos, e as pessoas ao seu redor viam-na como uma espécie de ser encantado, habitante de um mundinho completamente fora da realidade. Match perfeito.

A caracterização de Jean foi simples mas acertada: para ela, Peter devia ser representado como um garoto encantado mas comum, sem glamour, sem muitos acessórios nem artifícios  

     Não que não tenha havido problemas. Arthur deu seus ataques típicos durante a produção, e caso não aparecesse, uma substituta estava sempre a postos. Por orgulho, Arthur sempre comparecia porque sentia que o personagem era sua exclusiva propriedade. Quando ameaçaram trocá-la por Shirley Temple, Shirley recebeu uma ligação anônima de uma pessoa que apenas disse, implorando: "Por favor, não roube o Peter Pan de mim!". A produção fez muito sucesso. Boris Karloff, o eterno Frankenstein da Universal, fazia o vilão Capitão Gancho. Não ia com a cara de Arthur.

Saint Joan não obteve o mesmo sucesso de Peter Pan. Apesar de críticas ruins, humilhações do diretor e da cobrança excessiva consigo mesma, a breve turnê de Jean como Joana D'Arc foi elogiada

     Infelizmente, seu seguinte projeto na Broadway foi um fiasco profissional e pessoal. Saint Joan, do texto de Shaw, tinha tudo para ser um trabalho promissor, e uma nova realização pessoal de Arthur, obcecada pela figura de Joana D'Arc e pela obra de Shaw desde sempre. Jean tinha uma concepção muito particular de como a francesa devia ser vivida - a mais minimalista possível. Mas constantes brigas com o diretor da peça (na frente de todo mundo) e críticas mistas logo nas previews levaram a atriz ao esgotamento físico e emocional. Ela havia se dedicado de corpo e alma para o papel ao ponto de sofrer um colapso nervoso. Meia-hora antes de uma noite de estreia em Chicago, Jean se sentiu mal e desapareceu. A peça foi cancelada. O médico dela deu o diagnóstico: "completa exaustão". 

     Anos depois, para o consolo da atriz, ela pôde em 1964 tentar de novo fazer Saint Joan, desta vez numa temporada limitada de alguns dias no Durhin Studio Theater, em Berkeley, CA. Foi muito elogiada. Em 1967, tentou um comeback na peça psicodélica The Freaking Out of Stephanie Blake, cheia de referências hippies e uma mulher sisuda que faz a linha Cactus Flower liberada. Jean começava muito empolgava até se deslocar, achar tudo ruim e contrair uma doença psicossomática (não necessariamente nessa ordem). Durante a preview, Jean simplesmente pediu desculpas em pleno palco e saiu, deixando todos sem reação. Flop homérico. O prejuízo foi enorme (como todo flop após a desistência da protagonista) e todo mundo foi pro olho da rua. Ela voltou para sua seclusion de Carmel. 

De todos os seus flops, Saint Joan foi o mais duro de superar

Em 1965, após anos sem aparecer diante de uma câmera, Jean aceitou o convite para participar de um episódio da série Gunsmoke, série western nos moldes de Bonanza e Wagon Train. O público gostou e os índices foram bons. Continuava linda na maturidade, mas sempre insegura como uma criança.

Gunsmoke correu bem. Mas The Jean Arthur Show (1966) foi uma tentativa fracassada da atriz na televisão e foi cancelado 11 semanas depois. Jean voltou pra sua reclusão em Driftwood

Jean fazia uma mãe advogada na sitcom. Apesar de seu talento, o programa das segundas à noite não decolou, por culpa da emissora CBS (que já tinha flopado com o show de Judy Garland), do elenco mal escalado, dos roteiros e das neuroses da atriz. Ela estava muito bem aos 60 anos e com um bom guarda-roupa... 

     Da juventude até a velhice, o ar de "fadinha" nunca a abandonou. "Ela era não era muito real", diziam os que a conheceram. Nos anos seguintes, Jean Arthur se comprometeu em viver a sua vida longe dos holofotes. Deixou os cabelos grisalhos, com um corte de tigela; usava roupas comuns e confortáveis, geralmente calças. Foram raros os momentos fora de sua toca, em Carmel-by-the-sea. Tinha poucos, mas bons amigos nas proximidades. Com exceção de alguns do meio artístico, como Roddy McDowall (famoso por Como Era Verde O Meu Vale, e que tirou fotos de Jean na intimidade dos seus últimos anos), a maioria dos seus amigos não eram famosos. Jogava toda a correspondência que recebia no lixo. Gostava de pegar o seu carro Jaguar e dirigir para cima e para baixo. Tinha muitos gatos em casa e recusou um convite de Frank Capra para ir numa mostra em homenagem a eles, pois mais cedo eles compareceram a um simpósio na Yale Law School Film Society e a atriz foi muito bem-recebida. "Desculpe, mas eu preciso ir para casa dar comida pros gatos". Seria também um biógrafo de Capra que a motivaria a sair um pouco da toca para relembrar os velhos tempos. Questionada sobre seus filmes com Capra, ela dava todo o mérito da excelência dos filmes ao diretor e aos roteiristas: "estava tudo no roteiro". 

Os últimos anos da atriz (da biografia de John Oller)

     Não foi à toa o convite de Capra. Com o advento do VHS e das fitas cassete, junto com as reprises na televisão, os filmes clássicos estavam voltando aos trendings. Vinham as perguntas: Whatever happened to Jean Arthur?. Jean assistia aos filmes, por vezes reavaliava suas posições, conseguia ser menos severa consigo mesma e até apreciava os trabalhos, depois de tanto tampo. Entretanto... A atriz continuou avessa a entrevistas, dizendo que preferia ter a garganta cortada. Evitava ao máximo dar autógrafos e fugia de fotografias. Mas, em momentos de inspiração, ela cedia para a surpresa geral. Um estudante uma vez bateu em sua porta, humildemente pedindo um autógrafo e contando um pouco sobre sua admiração. Ela disse que agradecia o entusiasmo, mas não assinava. O estudante falou da importância do trabalho dela como atriz e citou Shane, especialmente sobre seus estudos na faculdade e como o filme era uma contribuição social, importante historicamente, adoraria que ela pudesse comparecer num evento da instituição e tal e coisa... Jean ficou curiosa e falou: "Entre, vamos conversar". Depois, enfim, ela autografou a fotografia para a faculdade e ajudou os estudantes na pesquisa.

A casa de Jean era um refúgio mágico e pessoal. Driftwood, em Carmel, Califórnia

     Apesar dos problemas, fracassos e demônios interiores, a vida da atriz foi muito inusitada. Em geral, se sentia muito plena e feliz na sua solitude. Não havia nenhum drama sobre essa questão, pelo contrário. Com o avanço dos anos e da extensão de sua aposentadoria, o medo do palco e das câmeras crescia. Afinal de contas, ela nem precisava mais trabalhar nem provar nada a ninguém - às vezes, a si mesma, pois nunca estava satisfeita consigo própria, e nunca esteve com sua carreira de um modo geral. Só abria mão de sua paz solitária para eventuais projetos que a interessassem muito, geralmente num momento de impulso que costumava dar dor de cabeça depois. 

    Era uma fumante inveterada. Em alguns momentos, Jean era propensa a beber demais. Desde sempre teve problemas com o alcoolismo, até os seus últimos anos. Como era muito reservada, sua discrição raramente fazia passar da intimidade os seus momentos de excesso. Mas os amigos e ex-colegas relatam casos da atriz descontrolada, e solitária.

Meryl Streep (última à direita) viria a ser aluna de Jean no final dos anos 60

     De 1968 até 1973, Jean Arthur foi professora de atuação na Vassar College de NY e na Escola de Artes Dramáticas da Carolina do Norte. Foi durante seu período na Vassar que Jean Arthur assistiu a uma jovem estudante na peça Miss Julie, de Strindberg, e a elogiou dizendo que "era como assistir a uma estrela de cinema". A aspirante a atriz era Meryl Streep. Meryl, por alguma razão, nunca toca no assunto sobre Jean ter sido sua professora, enquanto esfrega na cara de todos que teve a aprovação de Bette Davis ainda em vida. (Assim como o desdém de Katharine Hepburn).

Vassar College, onde Jean lecionou por alguns anos (e causou o terror para alunos e colegas)

     A metodologia de ensino de Jean era não ter patavina de método nenhum. Não sabia ensinar a atuar, só sabia como fazer do seu jeito. Ela simplesmente mostrava como achava que a cena tinha de ser feita corretamente. E se não estivesse, era como Kate Hepburn falava: WRONG, WRONG, WRONG! Ela simplesmente parava a aula e divagava sobre a natureza, a beleza das coisas etéreas, do plano das ideias. Uma vez ela levou os estudantes para fora e apontou para as árvores: "Quem dera as pessoas soubessem como ser pessoas, assim como as árvores sabem ser árvores". Num outro episódio inusitado, ela ensinou os alunos a serem bons para os animais. "Se vocês veem um animal morto no meio da estrada, vocês o recolhem e dão um tratamento digno a ele!". Por fim, se estivesse sem saco e com a paciência esgotada, apenas chamava todos de burros e dava de ombros. A vida de Arthur no meio acadêmico foi curta mas muito divertida. 

Roddy McDowall, mais velho e quando novo, estrela-mirim de Hollywood. Tinha um círculo social invejável entre as antigas estrelas. Também fotógrafo, foi um dos últimos amigos e confidentes da atriz

     Não tão divertido assim foi em 1973, na cidade de Winstom - Salem na Carolina do Norte, onde dava aulas. Jean foi presa por invasão de propriedade. A atriz se justificou dizendo apenas ter ido dar comida e carinho para um cachorro, que vivia preso e chorando, comprando briga com os donos da casa e também com os policiais. Foi grotesco algemarem e prenderem uma senhora de 73 anos! Quando foi solta, Jean gritou para os policiais: "Se eu fosse Katharine Hepburn, as coisas seriam diferentes!". Mesmo não sendo a Miss Hepburn, ao se darem conta que a senhora troublemaker era Jean Arthur, a cidade de Winstom-Salem foi motivo de maciço boicote da população, até Liz Taylor e Richard Burton se solidarizaram com a atriz. O processo correu como se fosse uma screwball dela dos anos 30, mas não terminou bem. Por fim, Jean foi condenada, pagou fiança de 75 dólares e ainda ficou três anos sob a mira da Justiça. Não fez nenhum grande pronunciamento, mas a opinião pública foi favorável a ela. 

No mesmo ano, foi convidada para participar do remake musical de Horizonte Perdido, filme que havia sido dirigido por Capra nos anos 30. Jean recusou fazer as duas versões. Apesar de ter sido uma musa de Capra, não aceitou diversas propostas do diretor. Nos anos 60 também recusara o papel de Apple Annie de Dama por um Dia. 

Neste outubro de 2019, um mural em homenagem à atriz foi inaugurado em Plattsburgh, sua cidade natal. Obra do artista Brendon Palmer-Angell

      Em 1975, Jean Arthur atuou formalmente pela última vez. Arriscou novamente um retorno aos palcos, dessa vez o último. First Monday in October tratava da primeira juíza mulher da Suprema Corte americana. Ela, a conservadora Ruth Loomis, bate de frente com o liberal Dan Snow, e do confronto no meio político nasce uma relação de afeto entre os dois. O papel do liberal coube a Melvyn Douglas, ainda um ator clássico ativo e com uma carreira prolífica. Questionado sobre a possibilidade de voltar a trabalhar com Jean Arthur, após Too Many Husbands décadas antes, só disse "Uma vez foi o suficiente". Mas no fim, acabou aceitando e começaram os ensaios. Após onze apresentações, Jean se recusou a continuar e esta foi sua última tentativa de voltar a atuar. Nice try... Jane Alexander a substituiu na turnê teatral. Alone again, naturally, Jean voltou para sua toca em Driftwood. Após um tempo, Arthur foi obrigada a mudar para uma casa menor ainda em Carmel. Doris Day quase comprou Driftwood, mas Jean, a louca dos gatos, foi realista e disse que não era uma casa boa (estruturalmente) para criar cachorrinhos, os favoritos de Doris.

     Apesar do papel, Jean foi por toda a vida uma ávida Democrata. Um dos motivos por ter torcido o nariz para James Stewart foi por causa de política, pois Jimmy sempre foi um republicano fervoroso. Mas no fim da vida, como com Billy Wilder, Jean telefonou e quebrou o gelo com o antigo colega Stewart, que retribuiu muito afetuosamente com carinho e admiração. 

Em 1981, a Paramount produziu um filme baseado na peça, com Walter Matthau e Jill Clayburgh nos papéis principais

     Barbara Baxley (sua substituta em Peter Pan), Ellen Mastroianni (sua maior confidente até o fim), Pete Ballard e Roddy McDowall eram alguns de seus amigos nos últimos anos, e a visitavam com frequência. Nos anos 70, Jean reatou os laços com o ex-marido Frank Ross, mas como amigos, após tantas décadas sem trocar uma palavra. A vida de Jean Arthur nos seus últimos anos foi tranquila, sem grandes emoções, às vezes arrependimentos, ou cenas cômicas do cotidiano dignas de screwballs da atriz. Só não era feliz a perda dos mais próximos. Seus irmãos mais velhos morreram todos antes dela; o mais velho, Donald, cometeu suicídio - Jean cuidou de todos os procedimentos funerários de todos. A ausência de pessoas próximas e queridas vinha desde cedo e a acompanhou até o final. A morte do adorado (mas ausente) pai anos antes talvez tenha sido a mais complexa de lidar, pois a influência desse homem elusivo moldou muito a sua personalidade, também elusiva. Houve sempre muitos pensamentos, muitos sentimentos mistos dentro dela.

Jean não viveu para ver as fotos do amigo Roddy. Anos 80

     Jean viveu uma vida longa e, da sua forma, soube aproveitá-la. Em 1989, a atriz sofreu uma queda séria, quebrando o quadril. Seguiu-se então um derrame que causou dano ao cérebro e a tornou uma inválida, sob os cuidados da amiga Ellen Mastroianni. "Eu só não queria que tivesse sido assim", disse em um raro momento de lucidez. Depois de dois anos duros incapacitada, no dia 19 de junho de 1991, Gladys Greene/Jean Arthur faleceu aos 90 anos de idade, em Carmel, California. Por coincidência, Joan Caulfield (esposa de Frank Ross que a sucedeu) havia morrido no dia anterior.

Não houve funeral. Ela foi cremada e suas cinzas jogadas na costa de Point Lobos, California. 

Desenho de silhueta feito por um amigo, Pete Ballard, em 1978

O crítico de cinema Charles Champlin escreveu no Los Angeles Times após o falecimento: 

"Para pelo menos um adolescente em uma cidade pequena (embora eu tenha certeza de que éramos uma multidão), Jean Arthur sugeriu fortemente que a mulher ideal poderia ser - deveria ser - julgada por seu espírito, assim como por sua beleza ... A noção da mulher como amiga e confidente, assim como alguém que você cortejava e por quem era louco, alguém cuja verdadeira beleza era interna e não externa, tornou-se uma possibilidade completa quando assistimos Jean Arthur."

94 Oak Street: casa onde Jean Arthur nasceu, em Plattsburgh, NY. Hoje com uma placa em homenagem ao local de nascimento da estrela da cidade. 

     Talvez com o seu público, ao longo de sua carreira, Jean finalmente tenha achado seus amigos e confidentes tão ausentes durante sua vida solitária. Ela nunca esteve satisfeita com o próprio trabalho, salvo o Peter Pan que era ela mesma, um espírito livre e preso em seu próprio mundo. Não tinha nenhuma expectativa com relação a posteridade. Mas seu trabalho, sim, vive e estará sempre vivo na tela em movimento! Seu talento, mesmo que não tenha superado seus ideais impossíveis, transcendeu a mediocridade e marcou não apenas uma época, mas para sempre todos os nossos corações. 

"As pessoas só ligam para comida, sexo e roupas. Eu poderia viver muito bem sem nada disso" J. A. (idealista à parte, adorava a comida que a amiga Ellen preparava)

     Apesar de ter sido uma mulher bem-sucedida e independente por toda a vida, a artista nunca se considerou uma feminista, mas mesmo assim defendeu sempre o direito da mulher de fazer o que bem entendesse, de ter o poder da escolha sobre o seu destino e lutar por ele. E afinal, qual o conselho dela para os jovens, futuros atores? "Nenhum, isso seria pôr meu nariz na vida dos outros. E eu acho que cada um tem que achar o seu próprio caminho". Fair enough! 

Duas coleções lançadas pelo TCM: Drama e Comedy collections

     Obrigado a todos por terem lido. Agradeço ao biógrafo por ter trazido tanta informação (e fotos raras) à luz do dia. Espero que tenham gostado da vida dessa fascinante e peculiar artista do cinema, e que tenha suscitado o interesse para aprofundar em sua obra. A maioria dos filmes aqui citados de Jean Arthur se encontram no Youtube, se acham facilmente na Internet, assim como muitos foram lançados em DVD. Caso tenham pedidos em especial ou dúvidas, estou à disposição. 

Com amor, 

Pedro